Gás natural – Queima de gás continua sendo um problema

Desde o fim de 2010 a Petrobras tem mais um motivo para correr com a conclusão do Gastau, gasoduto que ligará a Unidade de Tratamento de Gás Natural de Caraguatatuba (UTGCA) ao Campinas-Rio, em Taubaté, e será responsável pelo escoamento do gás natural produzido nos campos de Mexilhão, Uruguá-Tambaú e Lula, na Bacia de Santos. A ANP determinou que a petroleira e seus parceiros nessas áreas reduzam a queima de gás, sob pena de ter de paralisar a produção em 31 de março.

Os números do desperdício do energético são mesmo impressionantes. Em novembro passado, esses campos queimaram juntos 1,549 milhão de m³/dia de gás natural, 100% da produção da bacia e o equivalente à venda diária de uma distribuidora do porte da paulista GasNatural SPS ou da gaúcha Sulgás. Apenas Lula, área do antigo bloco BM-S-11, que hoje conta com um piloto de produção e um teste de longa duração, queimou no penúltimo mês de 2010 1,045 milhão de m³/d.

A Resolução 1.084/2010 da ANP determina que a queima extraordinária de gás na área de Lula está autorizada apenas até março no FPSO Cidade de Angra dos Reis, responsável pelo piloto de produção, e limitada a 500 mil m³/d. “Não serão mais autorizadas dilações ou incrementos da queima extraordinária de gás natural. Foi considerado razoável o prazo de três meses para a interligação do poço injetor de gás natural ao FPSO”, determina a resolução. No caso do TLD da área de Lula, realizado pelo FPSO Cidade de São Vicente no prospecto Tupi Nordeste, a produção também está limitada à queima de 500 mil m³/d, mas com prazo maior – até agosto.

Ainda de acordo com a agencia, a Petrobras terá de apresentar relatórios trimestrais progressivos de andamento dos projetos de aproveitamento do gás nas unidades de produção previstas para futuros TLDs na área do pré-sal.

O prazo para resolver o impasse é apertado. E pior: a queima de gás deve aumentar em Santos, já que, no fim de dezembro, a Petrobras colocou em operação um novo TLD na região, desta vez no prospecto de Guará, no BM-S-9.

40% da queima de Campos

A preocupação com a queima não é descabida. Mesmo sabendo das dificuldades enfrentadas pela petroleira para iniciar a produção em uma complexa e nova fronteira exploratória, que sem dúvida vai render ao país uma quantidade ainda maior do energético, cabe ao órgão regulador ser fiscalizador das riquezas do Estado.

Para se ter ideia do impacto, a Bacia de Campos, produzindo há cerca de 40 anos e com mais de 60 plataformas de todos os tipos, queima hoje 4,1 milhões de m³/d de gás natural. Já Santos, com apenas quatro sistemas – dois no BM-S-11, o FPSO Cidade de São Paulo (Uruguá) e SS-11 (Tiro e Sídon) – está queimando, em pouquíssimo tempo de operação, quase 40% disso.

Gás será reinjetado, diz Petrobras

A Petrobras pretende concluir os trabalhos de comissionamento do FPSO Cidade de Angra dos Reis, responsável pelo sistema definitivo do campo de Lula, antes do término do prazo estipulado pela ANP. Com isso, a unidade estará apta a reinjetar o gás natural ou exportá-lo para a UTGCA, quando o Gastau estiver concluído e operando.

A petroleira informou ainda que o excesso de gás queimado na região de Lula foi fruto de uma interpretação diferente da determinação da ANP, que não incluiria na conta o CO2 produzido na região, cerca de 15% do volume do gás, mas que não passa por combustão.

“Posteriormente, a ANP informou que o limite de queima deveria incluir o CO2. O ajuste já foi realizado para o mês de dezembro, considerando-se o critério apontado pela agência”, informou a empresa, por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa.

Gastau prometido para março

A conclusão de um poço injetor de gás para o FPSO Cidade de Angra dos Reis, que integra o sistema piloto de Lula, certamente terá impacto na redução da queima do energético em Santos. A grande queda, contudo, é esperada com a entrada em operação do Gastau, ramal que terá capacidade para transportar 20 milhões de m³/dia, incluindo a produção de Lula, Mexilhão e Uruguá.

A Petrobras projeta a conclusão das obras do gasoduto para março, quando termina o prazo para queima extraordinária de gás em Lula. Esperado para meados de 2010, o gasoduto não foi concluído por conta da complexidade do trabalho.

A diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, diz que o ramal estará pronto para receber a produção de gás de Santos a partir do segundo trimestre.

Parque das Baleias preocupa

A queima de gás associado em campos do Parque das Baleias, na parte capixaba da Bacia de Campos, também vem preocupando a diretoria da ANP. No fim de dezembro, a agência reprovou os volumes de gás queimados em novembro do ano passado em Jubarte e Cachalote.

Juntos, os dois campos queimaram 1,21 milhão de m³/dia – 912 mil m³/d em Jubarte e 299 mil m³/d em Cachalote –, contra uma produção de 2,1 milhões de m³/d. O volume de queima representa todo o gás natural distribuído pela Cegás, no Ceará.

Por causa disso, a ANP determinou que a Superintendência de Desenvolvimento e Produção instaure processo administrativo contra a Petrobras, para aplicação de penalidades. “O concessionário não desenvolveu ação para mitigar a queima do período”, aponta a resolução de diretoria 1.085/2010, de 29 de dezembro do ano passado.

A agência decidiu ainda que não serão mais autorizadas postergações para a queima extraordinária de gás natural por conta do comissionamento do FPSO Capixaba, além das já aprovadas pelo órgão regulador. Jubarte e Cachalote produzem hoje a partir dos FPSOs P-34, P-57 e Capixaba.

Desde 2010, ajuste na queima

Desde meados do ano passado a ANP negocia com as petroleiras que atuam no país o Programa de Ajuste para Redução da Queima de Gás Natural. A ideia é que as empresas trabalhem com a possibilidade de queimar até 3% de sua produção de gás associado, podendo o volume ser elevado para 5% em casos específicos, como o comissionamento de unidades de produção.

Em novembro passado, a diretoria da agência aprovou a redação final de um termo de compromisso, que foi assinado com Petrobras, Chevron e Shell para reduzir a queima em campos operados pelas empresas. O termo envolve os campos de Abalone, Albacora, Albacora Leste, Barracuda, Bonito, Caratinga, Cherne, Enchova, Espadarte, Frade, Garoupa, Jubarte, Marimbá, Marlim, Marlim Leste, Marlim Sul, Namorado, Ostra, Piraúna, Roncador e Voador. Com a exceção de Frade – operado pela Chevron – e de Abalone – operado pela Shell –, todos os campos são operados pela Petrobras.

Dados da ANP mostram que a queima de gás natural nos campos brasileiros foi de 6,74 milhões de m³/dia em novembro de 2010, volume 22,3% maior que os 5,49 milhões de m³/d queimados em outubro do mesmo ano.

Dos 20 maiores campos queimadores de gás do país, a Petrobras, sendo a maior operadora brasileira, responde por 19.

 

Fonte: Brasil Energia/Sindcomb Notícias