O desconto de 9,7% concedido pela Petrobras no preço do gás natural nacional vendido às distribuidoras representa solução apenas paliativa para a inflação. A medida, que vale para os próximos três meses contados a partir de maio, tampouco deverá contribuir para expandir o mercado doméstico do insumo.
Responsável pela avaliação, o consultor Marco Tavares, da Gas Energy, justifica a crítica, ao lembrar que a Petrobras precisa adotar uma política que estimule o consumo do gás pela indústria. Para Tavares, a urgência aumenta, se levada em consideração a oferta adicional de 50 milhões de metros cúbicos por dia do insumo, prevista pela estatal, neste ano.
A Petrobras — que detém o monopólio do gás no país — reajusta o preço do produto trimestralmente, com base na cotação de uma cesta de óleos no mercado internacional. Tradicionalmente criticada pelo iniciativa privada, que a acusa de impor preços acima dos cobrados no exterior, a estatal deverá adotar o desconto no próximo dia 1- de maio. De acordo com dados da Gas Energy, o produto nacional, extraído da Bacia de Campos, chega às distribuidoras a US$ 11,50 por milhão de Btu (MBtu), mais caro que o similar boliviano (US$ 7,80/Mbtu).
Procurada a diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, até o fechamento desta edição, não respondeu ao pedido de entrevista. Por meio de nota oficial, a executiva atribuiu o desconto a uma estratégia comercial. Se repassasse a alta das cotações do petróleo para o insumo, a diretoria correria o risco de arcar com a perda de mercado para outros derivados do petróleo, como o óleo combustível.
“Diante do cenário recente de evolução dos preços dos energéticos e suas conseqüências sobre os valores estipulados nos contratos de gás natural de origem nacional, a Petrobras resolveu, a seu exclusivo critério, conceder um desconto nestes contratos a partir de maio de 2011. Esta medida, que se baseou em estudos da área comercial da companhia, visa preservar a competitividade do gás natural no mercado”, diz a nota, sem vincular a medida a possíveis impactos sobre a inflação.
Pelos cálculos da Gas Energy, sem o desconto, a Petrobras teria que promover reajuste do preço do insumo nacional entre ll% e 12% em maio. Tavares diz que o desconto deverá se compensado pelo provável aumento no preço da gasolina e do diesel, nas próximas semanas. A avaliação do banco Banif indica a necessidade de reajustes de 157o, para a gasolina, e 47o, para o óleo diesel, pela estatal. A medida justifica o banco, compensaria uma defasagem de 337o no preço da gasolina frente aos preços do mercado internacional, e de 247o do diesel. Os dois produtos respondem por quase metade da receita da Petrobras com derivados.
“O problema é que o desconto é temporário, e não sinaliza uma nova política de preços de longo prazo, que contribua para ampliar o mercado consumidor de gás e os investimentos tanto das distribuidoras quanto da indústria de derivados de gás, como a de fertilizantes”, afirma o consultor da Gas Energy, ao lembrar que a maior parte do fertilizante usado no agronegócio brasileiro é importada. “A qualquer momento, a Petrobras pode voltar atrás no desconto.”
Uma mudança da política de preços, adverte Tavares, mostra-se urgente, à medida que, até o fim do ano, uma oferta adicional de 50 milhões de metros cúbicos por dia do produto estará disponível nos campos de produção da estatal. A oferta, compara o consultor, representa um acréscimo de mais da metade do total produzido diariamente no país (85 milhões de metros cúbicos). “Além disso, no fim de 2020, cerca de 207o da oferta do insumo será proveniente de outras empresas, no país, que não a Petrobras”, diz.
PROJEÇÃO
15% é o reajuste necessário para a gasolina e 4% o do diesel, segundo estimativa do Banif. A alta, diz o banco, compensaria uma defasagem de 33% no preço da gasolina frente aos preços do mercado internacional, e de 24% do diesel.
PRODUÇÃO
50 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural será a oferta até o fim do ano. O valor representa um acréscimo demais da metade do total produzido diariamente no país hoje, que é de 85 milhões de metros cúbicos.
FONTE: Abegás /Brasil Econômico, com informações da Reuters