
Sítios arqueológicos foram encontradas na região da Usina Mauá, na foto uma urna indígena praticamente intacta, que estava enterrada a 20 cm da superfície. Foto: Copel
Hepp explica ainda que a acidez característica do solo da região torna pouco provável a descoberta de restos de alimentos ou ossadas: “A matéria orgânica ali se decompõe muito rápido, mas iremos estudar tudo com bastante cuidado para ver o que descobrimos. Em outros sítios, encontramos restos de fogueiras e amostras de carvão”.
A descoberta das peças foi um grande feito, especialmente naquele local. “Estamos fazendo o resgate em uma região tomada por atividades de agricultura e pecuária que degradam muito os sítios arqueológicos que não são muito profundos. Essa urna maior, por exemplo, apareceu com cerca de 20 centímetros de profundidade e o fundo dela alcançou em torno de 70 centímetros”, conta Maurício Hepp.
Além da composição das peças, o estudo feito no âmbito desse projeto busca identificar o estilo e, assim, a origem do material dentro da tradição indígena. Até agora, já houve registro de vestígios deixados por índios Guarani desde há 2 mil anos até o período de contato com os brancos, nos séculos XVI e XVII. Há também indícios de passagem de grupos de tradição Kaingang e Taquara.
HISTÓRICO

Pesquisadores trabalham no programa de resgate e salvamento de sítios arqueológicos na região da Usina Mauá - Foto: Copel
Numa segunda etapa de trabalho, o Consórcio Energético Cruzeiro do Sul, responsável pela instalação da hidrelétrica, estendeu o projeto de salvamento do patrimônio arqueológico à área que futuramente será alagada para formação do reservatório da usina, que compreende terras dos municípios paranaenses de Telêmaco Borba e Ortigueira, às margens do rio Tibagi. Essa fase teve início em janeiro de 2010 e deve durar até julho deste ano. Ela inclui o resgate de mais de cinquenta sítios, de onde já foram retirados mais de 10 mil artefatos e fragmentos cerâmicos.
Esse minucioso trabalho de salvamento, que começa com a limpeza da superfície dos sítios, inclui ainda as etapas de levantamento topográfico, decapagem do solo, escavações e coleta de material. Os vestígios encontrados são levados para um laboratório de pesquisas, onde são inventariados, fotografados e acondicionados corretamente.
Ao final das atividades, o destino das peças será definido de acordo com orientação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão vinculado ao Ministério da Cultura, como explica o superintendente geral do Consórcio Cruzeiro do Sul, Sergio Luiz Lamy: “Antes, todo esse valioso material recolhido na área da usina estava sujeito à degradação, mas agora as peças serão enviadas para museus e instituições de pesquisa que atendam às exigências do Iphan para ajudar a contar a história da ocupação do nosso território”.
Os profissionais contratados pelo Consórcio Energético Cruzeiro do Sul (da empresa Habitus Assessoria e Consultoria) promoveram também ações de educação e conscientização entre os trabalhadores nas obras de instalação da usina e nos municípios abrangidos, em atividades que atingiram desde crianças até universitários.