Hamilton Bonat
A Demografia estuda, entre outras coisas, as dimensões e a distribuição da população. Apesar de atraente, essa área da ciência só chama a nossa atenção de tempos em tempos, como agora, com o recente anúncio do Fundo da População das Nações Unidas de que o planeta terá 7 bilhões de habitantes.
Por ironia, esse desinteresse se deve, de certa forma, a Malthus, um estudioso do assunto. Ao não se confirmarem suas previsões catastróficas de que a superpopulação levaria a guerras em busca do “pão nosso de cada dia”, ele caiu em descrédito. A carnificina na Europa, provocada logo em seguida por Napoleão, atribuiu uma credibilidade inicial aos seus argumentos. No entanto, mesmo com as terríveis duas guerras mundiais do século XX, o tempo e a ciência se encarregaram de desmenti-lo.
O perigo é o debate demográfico permanecer totalmente fora das pautas, lembrado somente quando cifras expressivas, como 7 bilhões, são anunciadas.
O crescimento populacional tem dois extremos. Num deles está o bebê embarcado em algum ponto do planeta, em data próxima ao recente 31 de outubro. Ele pode ter sido festejado tanto por alguma família do nosso bairro, quanto por outra da Ásia superpopulosa ou, ainda, da faminta África, onde as populações aumentam a taxas alarmantes.
Seja de onde for, apenas para atender às suas necessidades básicas, o novo passageiro consumirá energia. No entanto, como se espera que ele tenha uma boa qualidade de vida, de muito mais energia ele precisará. E só existe uma fonte para obtê-la: o planeta. Daí o nosso pecado original: somos todos poluidores, agora somando a expressiva quantidade de 7 bilhões.
No outro extremo encontram-se os que já embarcaram há muito tempo. Cada vez mais numerosos, igualmente graças aos avanços da ciência, eles (inclusive eu) não pretendem chegar tão cedo ao ponto final. Passageiros de primeira ou de última classe, todos (quase todos) optam por continuar embarcados nesta aeronave chamada Terra.
Entre esses dois extremos, os recém-chegados e os viajantes calejados, estão aqueles que devem se preocupar com a solução do problema: cientistas, ecologistas, pensadores, filósofos, sambistas, formadores de opinião e artistas. Sua missão: propiciar uma vida feliz aos milhões de humanos que nascem a cada ano e fazer com que, para todos, a hora do desembarque demore ainda mais para chegar. Achou difícil? Pois acrescento outro desafio: sem exigir ainda mais energia do nosso querido e já cansado planeta.
Por isso, a demografia não pode ser um assunto menosprezado. Ela sinaliza que logo chegaremos aos assustadores 8 bilhões, mas que, por volta de 2040, a tendência será de encolher. Talvez nunca cheguemos à bomba dos 9 bilhões. Aí, muitos de nós já terão desembarcado. Mas nossos netos continuarão a viagem. Em nome deles, pedimos: não ignorem a questão populacional. Seria suicídio ou, no mínimo, uma tolice.
Fonte: http://www.bonat.com.br