Marianne Hanson, economista da CNC
As medidas adotadas pelo Banco Central quanto às concessões de crédito representam um ajuste na política “macroprudencial”, adotada pelo governo no final do ano passado. A opinião é da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
De acordo com economistas da entidade, as medidas podem ser consideradas como um reforço ao afrouxamento da política monetária e revelam um Banco Central menos preocupado com a sustentabilidade do crédito e mais atento ao ritmo de desaceleração da atividade econômica.
“Como os impactos dessas medidas serão sentidos ao longo dos próximos meses, não mudam nosso cenário para os resultados desse Natal, que deve apresentar crescimento de 5,6% nas vendas do comércio”, afirma Marianne Hanson, economista da CNC. Para ela, a classe C será beneficiada pelas medidas, pois é a maior demandante de crédito. “Contudo, todas as classes serão beneficiadas. As condições de financiamentos de veículos, com prazos inferiores a 60 meses, devem melhorar com juros e valores menores de entrada”, explica.
Crédito cresce mais que renda
A concessão de crédito vem crescendo mais que a renda dos trabalhadores, avalia a Divisão Econômica. Segundo os especialistas, apesar dos elevados ganhos reais de renda em 2010 e 2011, o ritmo de crescimento do crédito é maior. “O que tem permitido o crescimento do crédito em ritmo mais rápido do que a renda é o alongamento dos prazos e a tendência de queda da taxa de juros do crédito nos últimos anos”, explica Marianne. Esse processo permitiu um maior endividamento das famílias sem descontrole da inadimplência, pois a parcela da renda comprometida com dívidas não se elevou substancialmente.
O aperto do Banco Central nas operações de longo prazo são uma forma de segurar um possível aumento da inadimplência em 2012, apontam os economistas. O rápido crescimento das operações de longo prazo são fonte de preocupação desde o final do ano passado, sobretudo no financiamento de veículos, no qual o colateral se deprecia antes do término do pagamento. Contudo, o prazo de 60 meses (cerca de 1.800 dias) já pode ser considerado bastante longo, dado que o prazo médio das operações para pessoas físicas é de 584 dias. Desse modo, não impactarão significativamente no crédito.
Cartão de crédito
A decisão de manter o pagamento mínimo da fatura do cartão de crédito em 15% do saldo devedor e não elevar para 20% como estava inicialmente previsto, também pode ser uma forma de evitar o aumento da inadimplência. Na última edição do Relatório de Estabilidade Financeira, o Banco Central produziu um estudo sobre o endividamento das famílias brasileiras no qual concluía que a colocação da exigência de 15% foi responsável pelo aumento do comprometimento de renda dos consumidores com dívidas. Uma nova elevação do pagamento mínimo poderia causar impactos negativos sobre a inadimplência.
Fonte: Imprensa CNC/ Foto: Carolina Braga