São Paulo – A Confederação Nacional da Indústria (CNI) está sediando nesta semana, no seu escritório em São Paulo, a reunião do grupo de trabalho da International Organization for Standardization (ISO, organização internacional para a uniformização) que elabora o rascunho da norma ISO 14.046, de métricas para o uso da água. Os representantes do setor privado brasileiro, entre eles a CNI, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), trabalham na construção da nova norma para que, entre outras medidas, ela considere as diferenças regionais.
A maior preocupação do setor empresarial brasileiro é de que, se as diferentes disponibilidades locais de recursos hídricos não forem consideradas, não será possível obter no Brasil os padrões de uso de água dos países que têm menor disponibilidade, como Israel, Egito, Austrália e Arábia Saudita, entre outros.
“É importante que a pegada hídrica não venha a se transformar em uma barreira extra-alfandegária, que reduza a competitividade dos produtos das regiões com altos DHRs (Disponibilidades Hídricas Renováveis) e que podem produzir com maiores pegadas hídricas, com impactos similares ou menores que regiões com baixos DHRs”, escreve o consultor Antonio Eduardo Lanna, na nota técnica que avalia o rascunho da ISO 14.046.
“Existe uma pressão internacional por uma maior eficiência no uso da água, mas isso não pode restringir o desenvolvimento do Brasil, que tem boa disponibilidade de água e deve poder usar isso a seu favor”, afirma Percy Baptista, analista de Políticas e Indústria da CNI. Segundo ele, de nada adianta criar um padrão internacional que não considere que quem tem mais água possa usar mais, “do contrário vai-se restringir o comércio daqueles países que têm maior disponibilidade, mesmo que usem o recurso com eficiência”.
Em junho último, depois da reunião realizada na Noruega, começou a ser contado o prazo de 36 meses para que a norma entre em vigor. Porém, se o grupo que está reunido esta semana na CNI e voltará a trabalhar conjuntamente em junho de 2012 na Tailândia não chegar a um consenso sobre todos os pontos da norma, o prazo poderá ser prorrogado.
A possibilidade de não haver consenso é grande, segundo avaliam os participantes do grupo de trabalho, porque há interesses conflitantes envolvidos. No próprio grupo existem, além de representantes de governos e do setor privado de vários países, como EUA, França, Japão e Inglaterra, consultores de empresas que vendem serviços de contabilização do uso da água de acordo com uma das 19 metodologias existentes hoje.
Quando o texto estiver pronto, será avaliado pelo comitê da ISO, que tem um representante de cada um dos 162 países membros da organização. O Brasil é representado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Fonte: Agência CNI