Hamilton Bonat
“Soldats, je suis content de vous!” Paulo Chagas, com a rapidez de sua cavalaria, arremessou-nos com voz firme, reverberada em todos os cantos do imponente auditório acadêmico, para a aula do Coronel Panizzutti. Professor de oratória, ele valia-se de Napoleão para nos revelar os segredos daquele notável soldado-orador no uso das palavras para conquistar mentes e corações.
A partir daí, ao percorrer as linhas da sua bela alocução, Chagas folheou o livro de um tempo vivido há mais de quarenta anos. Sua voz continuou firme, por vezes embargou, mas não o impediu de chegar a 18 de dezembro de 1971. Na mesma toada com que a emoção tentava lhe derrubar, gotas de lágrimas teimavam em molhar os olhos de todos. Mas, valentes, também conseguimos chegar juntos ao objetivo: o 18 de dezembro daquele tempo longínquo.
Antes de a reunião encerrar, convidados a entoar a canção da Academia, enchemos os pulmões. Queríamos, como nos anos setenta, fazer tremer aquelas paredes e os valores que elas guardam e representam. Dessa vez, porém, fracassamos. Embora tentássemos, já no segundo verso as lágrimas uniram-se traidoras e viraram cachoeira. O hino, que era para ser de milhões de vozes, reduziu-se a um murmúrio. Que nos desculpem as vestustas paredes. Dessa feita, seus bravos cadetes não conseguiram fazê-las vibrar. Derrotou-nos a emoção.
Fomos para Resende, vindos dos mais diferentes brasis, como filhos em busca do aconchego materno. Irmanados, embora distantes, desejávamos matar saudade da velha mãe. Não só dela, mas dos nossos irmãos e da nossa juventude. Sentíamo-nos obrigados a prestar-lhe contas depois de tantos anos decorridos, pois a sabemos exigente, não apenas com seus filhos, mas também consigo mesma.
Fomos surpreendidos pelo rejuvenescimento daquela Senhora de 200 anos. Diante dela, parece que só quem envelheceu fomos nós, embora sejamos ainda sessentões.
Reencontramo-nos não só para rememorar tempos idos, seus personagens, seus fatos, seus desafios. Valendo-me novamente das palavras do amigo Paulo Chagas: “Reencontramo-nos num lugar onde fomos abrigados, acolhidos, protegidos, instruídos, desafiados e testados. Numa casa que não é apenas uma casa, tampouco uma Academia Militar apenas, mas, por sua importância em nossas vidas, pela maneira especial com que forjou nosso caráter, nossos sentimentos e nossos corações, deve ser e é vista e sentida por nós como uma entidade materna, digna do nosso mais puro amor e da nossa eterna e sincera gratidão”.
É justo manifestar o nosso agradecimento e homenagem aos companheiros de turma e aos atuais integrantes da Academia Militar das Agulhas Negras, que se esmeraram para nos proporcionar momentos de enorme emoção. A eles e à sempre jovem bicentenária Academia, parodiando Bonaparte, queremos proclamar: “Nous sommes contents de vous!”
Por fim, permitam-nos acrescentar, com o coração vibrante de jovens Aspirantes da Turma Marechal Castello Branco: “Nous sommes contents de nous mêmes!”
Fonte: www.bonat.com.br