1. AJUSTAR PARA CRESCER
OS FATOS
Os governos mundiais precisam ajustar suas contas, mas essa consolidação fiscal deve ser feita de modo socialmente responsável. Esse, o apelo dos dirigentes dos principais organismos multilaterais aos governantes, por ora envolvidos nas crises de insolvência ou estagnação das economias centrais. Assinam o manifesto os lideres do FMI, Banco Mundial, Organização Mundial de Comércio, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, entre outras 11 lideranças globais. O apelo por medidas socialmente responsáveis envolve ajustes que preservem um crescimento suficiente para reduzir o desemprego e melhorar a situação das camadas sociais mais vulneráveis.
ANÁLISE (I)
O fato de os principais lideres de organismos multilaterais (aqueles que representam interesses setoriais de vários países) terem formulado essa posição pública é sintomático da preocupação com a linha dos ajustes macroeconômicos postos em prática para enfrentar a crise desencadeada em 2008. Processos de ajuste são típicos do sistema capitalista – e recorrentes na História – porém há maneiras inteligentes de enfrentá-los. Se o governante aplicar ênfase apenas na elevação de impostos (ampliar a extração fiscal da sociedade) e corte de despesas, acabará enfraquecendo o organismo social da nação.
ANÁLISE (II)
Por isso é louvável a iniciativa dos dirigentes de órgãos multilaterais, ao fugirem do radicalismo da economia ortodoxa (leia-se Alemanha de Ângela Merkel) para se aproximarem de correntes orientadas para o aspecto social da economia, os “keynesianos”. Essa é a fórmula aplicada em certa medida no Brasil: é preciso controlar os gastos e elevar a receita, porém sem sacrificar o ânimo da população. Alerta similar foi dito, recentemente, pelo novo primeiro-ministro da Itália, Mario Monti: “Fizemos (os italianos) os sacrifícios possíveis e as reformas possíveis; daqui não passarei em atenção ao meu povo!”.
2. DILMA E A HORA
OS FATOS
A presidente Dilma Roussef – que reuniu seu Ministério em meia mudança pela primeira vez no ano – está surfando em boa popularidade, graças ao momento favorável atravessado pelo Brasil. A economia não cresceu tanto como se imaginava no início de 2011, porém se sustenta em patamar aceitável, o nível de emprego foi mantido e a opinião pública continua apoiando a governante; embora com restrições em áreas como saúde e segurança e – ainda -, quanto ao excesso de ministérios. Para os próximos meses estão previstos passos que podem confirmar ou afetar essa boa hora.
ANÁLISE
Mauro Paulino, diretor do Datafolha, avalia que a aceitação poderá se sustentar, se a presidente for bem sucedida no desafio de equilibrar o controle das contas (bom, ano passado) com o estímulo ao crescimento. O primeiro ano foi de congraçamento, mas a inflação raspou no teto da meta, o funcionalismo dá mostras de insatisfação com a contenção salarial e a crise nos países ricos pode afetar o desempenho do Brasil. De toda forma 2012 começa positivo: há investimentos anunciados, os estrangeiros retornaram à bolsa brasileira e o governo – amadurecido após a estréia – tenta conduzir os negócios públicos com mais coordenação, evidenciada na criação de uma Secretaria de Gestão.
3. DOCE CONSTRANGIMENTO
OS FATOS
A sucessão presidencial está quente nos Estados Unidos, com eleições marcadas para o fim deste ano. Aqui, embora o pleito para a escolha da nova presidência só ocorra em 2014, já existem pré-candidatosem cena. Alémda notória figura do senador mineiro Aécio Neves – candidatíssimo pelos tucanos – e de ensaios do governador pernambucano Eduardo Campos (PSB), outros postulantes se apresentam. Entre eles o paranaense Álvaro Dias, que ocupou as manchetes políticas para informar: “Serei candidato a presidente se for convocado”.
ANÁLISE
Embora o senador paranaense tenha visibilidade nacional, em sua posição de líder da Oposição no Senado (onde releva atuação consistente), a discreta dimensão do Paraná pode ser obstáculo ao seu vôo presidencial. Historicamente nosso Estado carece de presença federativa e raras vezes conseguiu emplacar uma liderança regional no grande palco do país. Bento Munhoz da Rocha Neto foi cogitado como candidato presidencial pelo antigo Partido Republicano, mas o grupo mineiro da legenda histórica descartou seu nome; depois, Ney Braga chegou a ser citado no período autoritário, porém sem maior alcance. Afonso Camargo, falecido ano passado, figurou na chapa de candidatos presidenciais pelo PTB em 1989, ano em que foi eleito Fernando Collor. E por aí vai a crônica política, embora as citações em torno de Álvaro Dias sejam um alento para nosso paranismo – como destacou o advogado René Dotti.
4. CONSTRANGIMENTO REAL
OS FATOS
O que gerou constrangimento efetivo foi a atuação do governo paulista, ao autorizar a requisição de sua força policial para o cumprimento de uma medida judicial de reintegração de posse num bairro de São José dos Campos. O problema do terreno em litígio – integrante do acervo da massa falida de uma empresa do polêmico empresário Nagi Nahas – se arrastava na Justiça, a invasão aumentava com novos moradores e os poderes públicos tardavam em uma solução, tal como desapropriar a área para consolidar ali um projeto habitacional. Mas tudo foi suplantado com o cumprimento muito expedito da ordem de desocupação do imóvel.
ANÁLISE
A gleba restaurada pela ação da PM de S. Paulo ficou ao abandono com o colapso da firma; sendo progressivamente ocupada por invasores urbanos desde2004. Arecuperação faz sentido jurídico: trata-se de propriedade privada; porém o direito contemporâneo incorpora um aspecto social. Isso levou o governo federal a conceber um uso social para o terreno: preservar as famílias que ali se haviam instalado. A insatisfação dos moradores ante a lenta resposta do governo federal foi agravada pela atuação de elementos radicais dispostos a insuflar o conflito, em conexão com a inabilidade do governo paulista ao ceder a polícia para o cumprimento estrito da decisão da justiça estadual. Esse mau viés político – previa-se – já está sendo explorado na campanha eleitoral que se aproxima.
5. LENHA NA FOGUEIRA
OS FATOS
Não bastasse esse escorregão político-administrativo do seu principal governador (Geraldo Alckmin, de São Paulo), o PSDB entrou em outro conflito: o ex-presidente Fernando Henrique concedeu entrevista a um jornal britânico em que jogou lenha na fogueira das disputas intestinas do partido. Ao avaliar o desempenho partidário depois que deixou a presidência, FHC aponta erros nas campanhas de 2002 e 2010 – ambas disputadas por José Serra. Para o ex-presidente, entre outras falhas, na campanha de sua sucessão, em 2002, Serra não convenceu outros parceiros “de que ele era mesmo o cara”, isto é, “um líder claro”. Em 2010, ainda, “não formamos alianças” e Serra “estava isolado, mesmo internamente”. FHC também descartou a recandidatura de Alckmin (disputou em 2006), apontando Aécio Neves como um fator novo para 2014.
ANÁLISE
O ex-presidente FHC, nessa entrevista, atuou como o sujeito que apedreja a vidraça; porém deve assumir parte da culpa na sucessão de 2002 – por ter chegado ao fim do segundo mandato com forte desgaste, que Lula aproveitou para pavimentar sua candidatura pela Oposição. O ex-candidato Serra também é co-responsável: toda a campanha foi improvisada; a vice, uma deputada novata do Espírito Santo foi tão inexpressiva quanto o parlamentar do Rio que, em 2010, não agregou votos para o mesmo Serra. No entremeio a campanha de 2006, que o atual governador paulista Alckmin ajudou a enterrar, com atuação anódina contra um líder populista (Lula) enfraquecido pelo escândalo do Mensalão, mas que soube se reinventar – com boa mão dos marqueteiros de plantão.
6. TRIGO DISCRIMINADO
OS FATOS
O governo federal retomou os programas de apoio ao produtor nacional de trigo, adquirindo parcelas da safra anterior que continuavam armazenadas nas cooperativas e propriedades. A ajuda governamental se expressa através de leilões de aquisição, subsidiadas através de um sistema de equalização de preços e a primeira operação do ano envolveu a oferta de subsídio no montante de 205 mil toneladas para os triticultores do Rio Grande do Sul e 120 mil para os do Paraná; das quais foram comercializadas mais de 95%. O programa já vinha sendo aplicado desde o ano anterior, tendo contabilizado 974 mil toneladas ou 16% da safra nacional.
ANÁLISE
O que os especialistas reclamam é a diferença de proporção entre o volume de compras subsidiadas ofertado a cada um dos grandes estados produtores: 205 mil toneladas para o Rio Grande e 120 mil para o Paraná, sendo que ambos produzem quantia similar de trigo (em torno de 2,5 milhões de toneladas). Essa distorção tem raiz política, denuncia o jornalista Giovani Ferreira, articulista de agronegocios da Gazeta do Povo, a atestar o menor peso federativo de nossa terra – como assinalado em tópico anterior (item nº 3, “Doce constrangimento”) relativo à presença de nomes paranaenses no cenário nacional.
7. PALÁCIO E PREFEITO
OS FATOS
O Palácio Iguaçu voltou a ser ocupado, depois de três anos em reforma, com o que retorna como centro da Administração Pública paranaense. A rápida cerimônia presidida pelo governador Beto Richa, de reinstalação do Executivo Estadual na antiga sede de Governo, permite o aproveitamento do vizinho Palácio das Araucárias para várias Secretarias de Estado, muitas delas dispersas por bairros distantes do Centro Cívicoem Curitiba. Em paralelo, o prefeito da capital, Luciano Ducci, licenciou-se para viagem à Europa em busca de investimentos.
ANÁLISE
Construído dentro do ciclo de obras públicas que marcou as comemorações do Centenário do Paraná, o Palácio Iguaçu já abrigou 23 governadores e marcou época na História política do estado. Porém sua estrutura vinha se deteriorando, mesmo com a primeira reforma levada a efeito durante o governo Jayme Canet. Sua restauração ganha importância porque conduzida ao lado de outras obras vizinhas – como o anexo do Tribunal de Justiça, o Palácio das Araucárias e a modernização do complexo da Assembleia Legislativa.
8. DUAS VISÕES DE MUNDO
OS FATOS
Neste final de mês de janeiro duas visões de mundo estão sendo oferecidas à sociedade: na Suíça, a 40ª edição do Fórum Econômico Mundial, em Davos, reunindo chefes de estado e de governo, ministros, empresários e especialistas no mundo das finanças globais. No Brasil,em Porto Alegre, mais uma edição do Fórum Social Mundial, que congrega representantes de entidades do terceiro setor e militantes de partidos e organizações de esquerda.
ANÁLISE
As duas visões de mundo oferecidas por ambos os eventos internacionais não poderiam ser mais contrastantes. Enquanto em Davos os “experts” tentam encontrar alternativas para o capitalismo – entre elas a recuperação cíclica da atual crise e a convivência da economia empresarial (de mercado) com a oferta de empregos seguros e de qualidade -,em Porto Alegreos líderes das correntes críticas dessa economia capitalista criticam a desigualdade social, a debilidade dos compromissos ambientais e outros aspectos da vida contemporânea, que consideram “abaixo da expectativa”.
Rafael de Lala,
Presidente da API – Associação Paranaense de Imprensa e pela Coordenação da Frente Suprapartidária do Paraná pela Democracia e Grupo Integrado de Ações Federativas do Paraná Contato: (41) 3026-0660 / 3408-4531/ 9167-9233 E-mail: api1934@gmail.com – Twitter: @Apimprensa Rua Nicarágua, 1079 – Bacacheri – Curitiba/PR