Schettino – cherchez la femme

Hamilton Bonat

Alexandre Dumas sequer desconfiava que estava criando uma expressão tão ao gosto dos franceses quando, em 1854, publicou em seu livro Les Mohicans: “Il y a une femme dans toutes les affaires; aussitôt qu’on me fait un rapport, je dis: cherchez la femme”.

Cherchez la femme resume um lugar-comum das histórias de detetive. Não importa qual seja a confusão, quase sempre haverá uma mulher envolvida. Em seu sentido mais amplo, significa “procure a raiz do problema”.

Basta recordar alguns escândalos famosos para perceber que os franceses têm certa razão. Os casos das Mônicas, a brasileira de Renan e a americana do salão oval de Clinton. O do governador de Nova York, estrela do Partido Democrata, conhecido por “Cliente Nove” de Ashley Dupré, jovem de 22 anos que acabaria famosa como coelhinha da Playboy, enquanto “Nove” teve que renunciar ao cargo. O affaire de Dona Zélia Cardoso, que após ter deixado os brasileiros com míseros 50 dinheiros no bolso, resolveu dançar de rosto colado com Bernardo Cabral, ao som de “Besame Mucho”. A descoberta, no vizinho Paraguai, que o “bispo dos pobres” havia produzido em série dezenas “luguinhos”.

E, para não cometer a tremenda injustiça de esquecê-lo, é preciso recordar as festanças de Berlusconi, onde prostitutas adaptavam rituais eróticos praticados no harém de Muamar Kadafi. Diante das críticas, o premier italiano reagia: “Vivo uma vida terrível. Se uma vez ou outra preciso de uma noite para relaxar, ninguém tem nada com isso. Melhor gostar de garotinhas bonitas do que ser gay”. Aplausos! Este é o verdadeiro macho italiano, desde os da mais alta corte até os mais simples plebeus. Parece que eles sofrem da “síndrome de narciso”, segundo a qual todas as fêmeas devem adorá-los.

Aqui mesmo, em Curitiba, o presidente da câmara de vereadores, de sobrenome italiano, resolveu gastar 30 milhões em publicidade. Cidadãos indignaram-se pelo fato de ele torrar uma dinheirama, sem qualquer benefício para a população. Mas um jornalista-detetive logo iria desvendar que boa parte da grana pública foi parar no caixa da empresa de uma femme por quem o edil se encantara. Realmente, as mulheres têm o poder de fazer com que homens, honestos ou não, cometam loucuras, sem medir as consequências.

Quando pipocaram as primeiras notícias de que Francesco Schettino havia levado à pique o moderníssimo Costa Concórdia no Mediterrâneo, um mar que qualquer marinheiro conhece como a palma da mão há mais de 10 mil anos, caberia perguntar: “onde está a mulher”? Se fosse eu o seu advogado, usaria este argumento em defesa de Francesco, pois esse é o ponto fraco de todo italiano. Mas, para azar de Schettino, a Itália tem um ponto forte: sua justiça é séria e funciona.

Prezado Francesco: Como acredito que você jamais voltará a bordo, deixo-lhe um conselho. Ligue para seu compatriota Battisti, aquele que assassinou quatro italianos inocentes e acabou acolhido como herói à bordo do Brasil. Quem sabe ele consiga interferir junto às nossas autoridades para você vir morar numa de nossas paradisíacas praias? Aí, não lhe será difícil “chercher une femme”.

Fonte: www.bonat.com.br