O “corredor” do Comércio Exterior Brasileiro

* Jovelino Pires

O ano de 2012 encontra o Brasil consciente de que a balança comercial poderá ter suas exportações com valor em queda em relação a 2011, em função, principalmente, da possível redução dos preços internacionais dascommodities, fator que foge ao nosso controle.

Importantes para o País são o ordenamento interno e os controles recentes das despesas de custeio governamental. Daí, na questão do crédito ao setor privado, a redução da taxa Selic, agora em 10,5%, que amplia certamente os volumes dos empréstimos privados, com o sucesso do Banco do Brasil e de outros bancos no atendimento ao grande público. A economia se fortalece internamente.

O País depende fortemente das vendas externas e toda e qualquer modificação de valor do transporte pode e vai afetar a logística do comércio exterior brasileiro. Assim, os segmentos empresariais acompanham atentos o que ocorre nas rotas de navegação que trazem e levam nossas cargas, os tipos de navios e suas alterações, além do mapeamento das melhores rotas oceânicas, sempre na busca do caminho mais adequado para nossos produtos.

Também existe o acompanhamento do que os parceiros comerciais e eventuais concorrentes traçam na disputa mercadológica. Não estamos sós…  Agora mesmo, em fevereiro de 2012, dois exemplos são marcantes. Um deles, o Porto de Montevidéu, no Uruguai, funciona 24 horas por dia, com isenções próprias de sua legislação e em processo de construção de novo cais (um Hub Port ao Sul do Brasil).

O outro exemplo é o novo Canal do Panamá, que deve redistribuir o fluxo de cargas entre os Oceanos Atlântico e Pacífico, que pode beneficiar, principalmente, o envio de carvão e cereais dos Estados Unidos para os países asiáticos. Tudo atua sobre a formação do preço de concorrência.

Um forte componente na formação do preço (e da concorrência) está no transporte. Em âmbito interno, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), através da Câmara de Logística Integrada (CLI), mantém interlocução ativa com as agências reguladoras do segmento, como a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), que tratam da integração nacional, acertando  nossa malha operacional, tudo isso em um país de características continentais.

O frete é forte barreira aos nossos produtos, principalmente do setor do agronegócio. Entre as medidas ainda a se executar encontram-se o pleito referente às concessionárias das ferrovias, cujos investimentos são impactados por necessidade de se utilizar recursos para amortização de pagamentos de tributo ao governo e com gastos para o segmento, com dispêndios em conservação e recuperação de trechos de ferrovias.

A CLI coloca que os custos de adequação das malhas ferroviárias no Brasil deveriam ser apreciados em relação ao objetivo que norteia as concessões, qual seja: atender a demanda de cargas e passageiros de forma rentável aos usuários, substituindo a gestão governamental pela ação do setor produtivo empresarial. Para tanto, é necessário que o concessionário tenha condições de dispor de gestão financeira, não cabendo ao governo, salvo melhor juízo, auferir lucro em cima dessas concessões. Afinal, as ferrovias, melhoradas inclusive no seu traçado econômico e social, continuarão a ser da União.

Neste raciocínio, compreende-se que os investimentos para colocar o Brasil nos trilhos devem atender aos usuários, aos concessionários e ao País, a fim de que o desenvolvimento econômico e social se dê pela melhor utilização dos recursos disponíveis.

Quanto ao frete externo, relativo ao transporte marítimo, o esforço precisa ser desdobrado: aqui, pelos usuários, e lá fora pelos armadores que também precisam melhorar seus  índices e performances.

O que se sente, portanto, é que o mundo não está recessivo, mas sim mais complexo, globalizado, cabendo às entidades de classe pensar soluções para o “day after”, já que nossos parceiros também o fazem.  Enfim, o Brasil depende de nós para seu sucesso diário.

* Jovelino Pires é Coordenador da Câmara de Logística Integrada, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (CLI/AEB).

Fonte: Revista Comex BB