*HAMILTON BONAT
Caro leitor. Se você tiver um tempinho, gostaria de lhe propor uma questão. Vamos lá. Suponha que você mora numa casa, em Curitiba. Nos fundos, tem um quintal, daqueles do tipo 15 por 20 metros, com algumas árvores frutíferas. No dia do seu aniversário, o vizinho, que é seu amigo, lhe presenteia com uma muda de pinheiro. Pergunta: você a plantaria no seu quintal? Justifique.
Mesmo sem conhecê-lo, ouso concluir que sua resposta seria não. Imagino a justificativa que daria: se eu plantar uma araucária, jamais poderei cortá-la (lembre que ela vive 200 anos) e meu imóvel será desvalorizado.
A verdade, caro leitor, é que a legislação, sendo extremamente inflexível, tem desestimulado o plantio da árvore-símbolo do Paraná, em especial no meio urbano. As pessoas ficam receosas, e com razão.
Houve tempo em que o Estado era um verde só, coberto, desde os contrafortes da Serra do Mar até as barrancas do Rio Paraná, por um oceano de árvores, sendo o pinheiro a dominante e predominante.
A araucária angustifólia, como preferem os cerimoniosos, é uma espécie verdadeiramente imponente, que se esconde sob a sombra das demais para crescer, ultrapassando-as mais tarde em beleza e altura. Aí, é ela que passa a fazer sombra, por longos dois séculos, às suas vizinhas. Possui alguns apelidos, como curi (daí, Curitiba), curiúva, pinho, cori (daí, Coritiba), pinho brasileiro, pinheiro brasileiro, pinheiro são josé, pinheiro macaco, pinheiro caiová e pinheiro das missões.
Sua semente servia de alimento para a gralha azul, também em extinção, que, para escondê-la de outros apreciadores, enterrava o pinhão para comer mais tarde. Como, muitas vezes, não conseguia reencontrá-la, ela brotava. Estava, dessa forma, garantida a renovação da espécie.
A extração desordenada, entre os anos 1870 e fins dos 1940, provocou grande desmatamento. Da floresta primitiva, resta aproximadamente 5%. Qualquer paranaense sabe que é preciso fazer alguma coisa pelo seu símbolo. Ele está em todos os lugares, em nomes de cidades e logradouros públicos, em bandeiras e nas artes. Só não está onde deveria: na natureza. Nem nela, nem nos quintais curitibanos. E a legislação, por ser inflexível, não incentiva, ao contrário, desestimula o seu plantio. Há que se pensar em leis mais inteligentes, que atendam também aos moradores urbanos, pois muitos desejariam colher pinhão no quintal de casa.
Dizem que, há muito tempo, a Tailândia ainda se chamava Sião e tinha um rei que, quando antipatizava com algum súdito, presenteava-o com um elefante branco. A vítima, evidentemente, não podia cometer a grosseria de recusar um mimo real. Ficava, assim, com a obrigação de cuidar do bicho, cujo porte, apetite e longevidade, o levavam à falência. Além do mais, por tratar-se de animal sagrado, tinha que ser mantido com aspecto saudável para não irritar o soberano, que fazia visitas inopinadas a fim de fiscalizar o tratamento dispensado ao seu presente. Quando o cortesão era muito chato, o rei brindava-o com gêmeos.
No Paraná, acontece algo semelhante. Embora aqui não tenha rei, há um elefante branco, infelizmente, a muda de araucária.
Fonte: http://www.bonat.com.br