
O acervo do artista paranaense João Turin, um dos maiores nomes da escultura brasileira, vai ganhar novas obras a partir do próximo ano.
O acervo do artista paranaense João Turin, um dos maiores nomes da escultura brasileira, vai ganhar novas obras a partir do próximo ano. As peças, pertencentes à família Lago, serão fundidas em bronze a partir de matrizes originais feitas em gesso pelo autor. Além disso, o acervo documental, pertencente ao Estado, está em processo de digitalização, num projeto piloto para a modernização da gestão museológica de acervos no Paraná.
As esculturas de João Turin já foram levadas para um espaço especialmente construído pela família Lago, que adquiriu o acervo em 2011 de Jiomar José Turin, sobrinho do artista e herdeiro universal das obras. O levantamento do acervo, a retirada e o transporte das peças foram acompanhados pela equipe da Secretaria de Estado da Cultura.
Ao mesmo tempo, o acervo documental, composto de mais de 2,5 mil itens – entre esboços, cartas, bloco de notas e livros – está passando por um processo de digitalização, conservação preventiva e acondicionamento, ações que devem ser concluídas no final de julho. Depois isso, será levado para o Museu Oscar Niemeyer (MON) para integrar o Centro de Documentação e Pesquisa. A intenção é que sejam intensificados os trabalhos de pesquisa e investigação feitas pelo centro e que ele seja efetivamente um ponto de referência das artes visuais do Estado, juntamente com o Museu de Arte Contemporânea do Paraná.
De acordo com a coordenadora do Sistema Estadual de Museus da Secretaria da Cultura, Christine Baptista, a coleção João Turin será o piloto no que diz respeito à gestão museológica de acervos, prevista no programa Museus Paraná, lançado este ano pela Secretaria da Cultura. “A coleção João Turin será o primeiro acervo do Estado a ser tratado dentro das normas museológicas e de conservação. Em novembro deste ano este acervo deverá estar disponível em plataforma web para acesso e pesquisa”, explica.
Segundo a coordenadora, o público terá acesso a todo o conteúdo dos documentos, enquanto os originais ficarão preservados. “Muitos documentos são fonte de pesquisa ainda não explorada e que, sem dúvida, são fundamentais para o conhecimento do processo criativo do artista”, diz Christine Baptista. “Em seus esboços podemos destacar as temáticas Estrada de Ferro, Índios e Paranismo, que apresenta estudos de luminárias e fontes públicas, capitéis, bancos para praças e ornamentos arquitetônicos, documentos que poderão ser consultados na nova plataforma.”
EXPOSIÇÃO
O processo de produção dos novos originais deve começar ainda este ano e as peças serão manuseadas por uma equipe de museólogos, artistas plásticos, restauradores e especialistas em fundição, que usarão as técnicas mais avançadas da área para garantir os melhores resultados no processo de confecção das peças.
O governo do Estado do Paraná receberá em doação uma cópia de cada novo original a ser fundido em bronze e as peças integrarão uma mostra que já está sendo organizada para 2013, no MON. “Será uma grande exposição que ocupará uma das principais salas do Museu. Queremos que o público tenha acesso a este acervo e que ele também circule por outros estados, mostrando a genialidade do trabalho de João Turin”, diz Christine.
Tombado no ano passado pelo Patrimônio Histórico do Estado, o acervo, composto por mais de 360 peças em gesso, 176 pinturas, fotos, cartas, estudos, e esboços, estava sob a guarda da Secretaria de Cultura do Paraná desde 1989, em exposição na Casa João Turin, espaço de propriedade da Secretaria utilizado para expor o acervo inicialmente destinado ao antigo Museu de Arte do Paraná, hoje Museu Oscar Niemeyer. Com a venda da maior parte das obras, a casa deverá ser revitalizada e a Coleção João Turin – documentos e novos originais –pertencente ao Estado, ocupará um espaço no Museu Oscar Niemeyer.
De acordo com Samuel Lago, a família tem intenção de manter a parceria com a secretaria. Além da doação das peças fundidas, a família também arcou com as despesas de todo o processo de digitalização e preservação do acervo documental. “A Secretaria da Cultura vem fazendo um excelente trabalho na manutenção das peças e a parceria garante a continuidade deste trabalho. Assumimos um compromisso com a família de João Turin de preservar a unidade do acervo, e nossa intenção é que o público continue tendo acesso às obras deste grande artista paranaense”, destaca Lago.
Samuel Lago explica que o interesse da família pelo acervo de João Turin surgiu da preocupação em divulgar e valorizar a cultura paranaense no Brasil e no mundo. “Apenas algumas das peças confeccionadas serão disponibilizadas para comercialização, e o governo do Estado do Paraná receberá em doação uma cópia de cada novo original a ser fundido em bronze”.
O ARTISTA
Considerado o precursor da escultura no Paraná, João Turin nasceu em Porto de Cima, município de Morretes. De formação acadêmica, o artista iniciou seus estudos na Escola de Artes e Ofícios de Antônio Mariano de Lima, em Curitiba, onde atuou como aluno/professor. Aos 27 anos, com auxílio do Estado, seguiu para a Bélgica e especializou-se em escultura na Real Academia de Belas Artes de Bruxelas, sob os ensinamentos do reconhecido mestre da estatuária, o belga Charles Van der Stappen. Por merecimento curricular, Turin conquistou como prêmio um ateliê, carvão para aquecimento e modelo vivo. Dos diversos trabalhos realizados na academia, destaca-se a obra “Exílio”.
Quando retornou ao Brasil, em novembro de 1922, centenário da Independência, expõe no Rio de Janeiro a estátua de Tiradentes, trabalho executado em Paris nesse mesmo ano e que recebeu boas referências na imprensa francesa. João Turin morreu em Curitiba no dia 9 de julho de 1949, aos 70 anos.
Fonte: ANPr