Rio + 20: as razões do índio

*Hamilton Bonat

Na Rio + 20, o único resultado prático parece ter sido alcançado pelos prefeitos das 59 maiores cidades do planeta. Reunidos no forte de Copacabana, eles não estavam contaminados pelo viés ideológico. Por isso, sentiram-se livres para trocar experiências a respeito de como resolver, sob o ponto de vista ambiental, os sérios problemas causados pela concentração de milhões de pessoas num espaço restrito: as grandes cidades, estas sim, verdadeiros focos de poluição e de aquecimento. É neles, nos municípios, que deve-se buscar a solução, a ser costurada de baixo para cima, e não imposta pelos detentores do poder mundial, cujos vícios e interesses os descredenciam a agir em nome dos 7 bilhões de habitantes da terra.

No mais, foi perda de tempo e dinheiro. Já era de esperar, pois qualquer gerente, chefe ou líder sabe que, quando se deseja protelar a solução de algum problema, cria-se um grupo de trabalho e o encarrega de estudá-lo. Quanto maior e mais heterogênea a sua composição, menores serão as chances de que ele chegue a uma conclusão. Portanto, seria muita pretensão querer que cerca de 200 mandatários de nações com interesses conflitantes tomassem alguma decisão importante na Conferência das Nações Unidas Sobre Desenvolvimento Sustentável.

Logo, são injustas as críticas à declaração intitulada “O Futuro que queremos”, aprovada pelos chefes de estado. Taxaram-na de pouco ambiciosa. Esperavam o quê, um milagre? Na verdade, foi quase isso que nossos diplomatas conseguiram produzir, tentando agradar a todos e, logicamente, não agradando a ninguém. O bombardeio mais pesado partiu dos representantes da União Europeia, com quem, não por acaso, fizeram coro inúmeras ONGs por eles patrocinadas e fortalecidas pela presença, tão ameaçadora quanto a de um porta-aviões, do navio do Greenpeace nas águas da Guanabara.

Sempre desconfiei das reais intenções das ONGs estrangeiras. Enquanto posam de donos da verdade absoluta, sobre a qual não admitem qualquer tipo de dúvida, buscam limitar nosso desenvolvimento. Elas anunciam o fim dos tempos como argumento para que os países que as financiam continuem mandando em suas ex-colônias. Exemplo recente tem sido sua tentativa de impedir a construção da hidrelétrica de Belo Monte, que causará, certamente, menos impacto sobre o aquecimento global do que as fontes de energia utilizadas na Europa.

Apesar da existência de estudos científicos, sérios e comprovados, de que o aquecimento global é muito mais consequência de fatores naturais, como as variações da temperatura do Sol e de sua maior ou menor proximidade da Terra, do que da ação humana, seus militantes teimam em desconsiderá-los. Está claro que, se fizessem isso, perderiam seu catastrófico argumento intimidador.

Por incrível que pareça, a melhor síntese da Rio + 20 foi feita por um índio. Não por um índio como aqueles que as ONGs levaram a tiracolo, como fossem propriedade sua e de cujas reservas procuram se apoderar, para o Rio de Janeiro. Ela partiu de um presidente da república. Partiu, quem diria, de Evo Moralez. Ao declarar que “os países ricos financiam as ONGs ambientalistas com o fim de impedir o desenvolvimento da América Latina”, ele sintetizou, de forma contundente, o pensamento dos que não têm voz nem “Euros” para se fazer ouvir.

Fonte: www.bonat.com.br