FATOS POLÍTICOS DA SEMANA EM ANÁLISE

1. CAI O MORALISTA

OS FATOS
Demóstenes Torres, o senador por Goiás, foi cassado por ampla maioria dos membros daquela Câmara Alta do Congresso. O ato do plenário encerra um capítulo da crônica política brasileira, tornando-se “página virada”, na expressão do presidente José Sarney. Torres foi acusado de conivência com práticas delituosas lideradas pelo contraventor Carlos Ramos (o “Carlinhos Cachoeira”) e, sobre tais relações, mentir aos colegas – práticas graves violadoras do decoro parlamentar.

ANÁLISE
A cassação de Demóstenes Torres afasta do Senado o mais destacado “político ético” dos últimos tempos. Iniciando o mandato sob reiteradas manifestações de probidade, intransigência com os malfeitos e até denúncias contra partidos e colegas parlamentares (herança de sua atuação pregressa como promotor de justiça e secretário de segurança), Demóstenes caiu do pedestal quando gravações da Polícia Federal apontaram seu relacionamento com Cachoeira. A perda de sustentação partidária (saiu dos Democratas) e da opinião pública selou-lhe o destino para além das pressões exercidas pelos partidos governistas, a ponto de seu expurgo representar uma quase unanimidade política.

2. ALIVIAR DEVEDOR

OS FATOS
A União Européia acaba de suavizar o peso da dívida espanhola, alongando em um ano o prazo para que o país ibérico promova os ajustes macroeconômicos necessários à redução do déficit público ao nível de 3% ao ano previsto nos tratados de constituição do bloco. A medida foi conjugada com a disponibilidade imediata de 30 bilhões de euros a serem repassados diretamente aos bancos locais para suprir problemas imediatos de liquidez. Em paralelo a esse reforço externo, o governo da Espanha apertou as regras de austeridade interna: elevou tributos, cortou benefícios e aceitou supervisão de seus bancos pelos credores.

ANÁLISE (I)
O alivio ao devedor, via redução dos custos de capital e alongamento dos prazos para satisfação de sua dívida, é a receita clássica para equilibrar uma situação de crise, conhecida desde a Antiguidade. Foi dessa forma que, cinco séculos antes de Cristo, Sólon – o sábio legislador de Atenas – resolveu a grave situação que ameaçava derivar para uma guerra civil naquela cidade-estado. Tais ajustes, é fato, impõem perda aos credores, castigados por terem se mostrado gananciosos em juros na hora de emprestar; mas também sanciona os devedores imprudentes ao tomar empréstimos superiores à sua capacidade de pagamento. O problema europeu era a miopia dos líderes chamados ao governo desse bloco, que só agora começam a experimentar soluções já adotadas nos Estados Unidos (Plano New Deal) e no Brasil (Proer dos bancos).

ANÁLISE (II)
No caso da Espanha, os analistas internacionais explicam que o aperto enfrentado pelo país, que corta verbas até para cuidadores de idosos, decorre do discurso de austeridade estrita apresentado pelo primeiro-ministro Rajoy, um político sem luz própria que só venceu devido ao fracasso dos socialistas anteriores (Zapatero & Cia.) Em vez de uma postura firme ao estilo do italiano Mario Monti, Rajoy se rendeu aos “professores” da União Européia, aceitando um constrangimento que está estrangulando a sociedade de seu país. Trata-se de um radicalismo de matriz ibérica que – à diferença de nossa herança lusitana – também se estende à Argentina, às voltas com retaliação dos países parceiros em resposta ao protecionismo exacerbado dos últimos anos.

3. AJUSTAR BRASIL

OS FATOS
A CNI, confederação que reúne as federações estaduais da indústria brasileira, acaba de reduzir a projeção do PIB do ano para 2,1%. Em função do cenário, desfavorável a partir do ambiente internacional, o governo federal aplicou mais uma ação para se contrapor ao quadro: apressou a liberação da segunda parcela de restituição do IR, no montante de R$ 2,6 bilhões. Por sua vez o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, sugeriu esforços no sentido de aprofundamento da agenda de modernização da economia nacional, com ênfase na consolidação de cadeias industriais. Para Coutinho o apoio à indústria é fundamental para transferir eficiência ao conjunto produtivo do país.

ANÁLISE
Ao lado do revigoramento do parque industrial brasileiro – e de restituições de tributos, etc. -, há medidas ainda pendentes que podem dar mais um fôlego à economia. Os juros bancários de curto prazo já baixaram sob pressão do governo quando retirou os bancos da zona de conforto inflacionário em que estavam acomodados. Mas o setor de cartões de crédito e as entidades ditas “financeiras” (operam no ramo de financiamentos de bens de consumo) e “factorings” continuam praticando juros de usura, cobrando taxas absurdas e promovendo operações casadas que podem e devem ser questionadas, quando não reprimidas.

MISCELÂNEAS (I)

A Organização dos Estados Americanos se inclina pelo reconhecimento do novo governo paraguaio. Relatório do secretário geral, após visita a Assunção, registra que saída de Lugo foi legal =/= Já o ministro brasileiro Antonio Patriota rebate: a OEA ainda não decidiu, o relatório do secretário é apenas a primeira peça =/= Universidades federais enfrentam problemas devido à expansão acelerada dos últimos anos. Mas em vez de greves, docentes e alunos devem colaborar com soluções, como é próprio de uma democracia =/= Ministro Paulo Bernardo participou do jantar oferecido pela presidente Dilma a governadores do PSB. Objetivo: estreitar aliança e evitar atritos derivados de chapas municipais =/= Já a crônica política adianta que Dilma, desconfiada do PSB, pretende reativar a aliança com o PMDB, visto como parceiro mais fiel.

MISCELÂNEAS (II)

Senador Aécio Neves criticou a concentração de recursos pela União conjugada com a transferência de encargos a estados e municípios =/= Na mesma toada de revivência das oposições, o ex-presidente FHC recebeu premiação da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, pelo conjunto da obra =/= Porém em São Paulo a campanha de José Serra, principal expressão tucana, ainda não decolou. Divergências internas embaraçam a arrancada do re-candidato a prefeito pelas oposições.

MISCELÂNIAS (III)
No Paraná, bancada estadual do PMDB na Assembléia vota com o governo, mas pleiteia mais espaço (leia-se, funções e cargos de nível) =/= Governador Beto Richa explicando a decisão de compor nos principais municípios paranaenses, em vez de lançar candidatos próprios do PSDB. Foi para preservar a aliança suprapartidária de sua eleição em 2010 =/= Campanha municipal começou em Curitiba e nos principais municípios paranaenses. Muitos candidatos porém, ainda estão travados porque a regulamentação detalhada atrasa a liberação do material publicitário =/= Luciano Ducci inaugurou seu comitê regional para a área de Santa Cândida, cobrindo 17 bairros da cidade, entre eles o tradicional Bacacheri =/= Candidato Gustavo Fruet teve decisão favorável da Justiça Eleitoral, para reverter multa por propaganda antecipada.

 

Rafael de Lala,
Presidente da Associação Paranaense de Imprensa – API
Coordenação da Frente Suprapartidária do Paraná pela Democracia
e Grupo Integrado de Ações Federativas do Paraná

 

E-mail: api1934@gmail.com Twitter: @Apimprensa
Contato: (41) 3026-0660 / 3408-4531/ 9167-9233
Rua Nicarágua, 1079 – Bacacheri – Curitiba/PR