1. ELEIÇÃO PROSSEGUE
OS FATOS
As eleições municipais em primeiro turno transcorreram com normalidade no país, com apuração rápida graças ao processo informatizado do voto. Na maioria das cidades com eleitorado inferior a 200 mil votantes – e em algumas capitais e praças maiores – o resultado final foi obtido, com o anuncio dos candidatos a prefeito e vereador escolhidos pelo eleitorado. Em Curitiba a primeira consulta apurou a escolha dos candidatos Ratinho Junior e Gustavo Fruet, ficando de fora o prefeito Luciano Ducci, derrotado para a segunda vaga por pouco mais de quatro mil votos.
ANÁLISE (I)
Afora a relativa surpresa da eleição em Curitiba, debitada à deficiente metodologia dos institutos de pesquisa política – que erraram na projeção dos votos do candidato Fruet, situando sempre o prefeito Ducci na segunda colocação – os dados mais relevantes apontam para a continuação do duopólio eleitoral PT-PSDB e ligeira subida do PSB do governador pernambucano Eduardo Campos. Herdeiro político do avô Miguel Arraes e dotado de sensibilidade política, Campos sobe ao podium nacional ao lado do senador mineiro Aécio Neves. Ambos figuram como novas lideranças, ao lado de próceres já consagrados como Lula e a presidente Dilma; ou políticos maduros como o governador paulista Geraldo Alckmin, o governador do Rio, Sergio Cabral e o ex-prefeito José Serra.
ANÁLISE (II)
Serra (PSDB) conseguiu liderar o primeiro turno para a prefeitura de S. Paulo, em disputa com o ex-ministro Fernando Haddad (PT). Ambos derrotaram nessa jornada o radialista Celso Russomano, que figurou na ponteira das intenções de voto durante toda a campanha mas, na reta final, chegou esvaziado por falta de densidade política. A etapa que se abre agora é a da costura de alianças para a corrida do segundo turno, mas onde – como lembrava o astuto cardeal Mazarino – os desafiantes tanto em S. Paulo como em Curitiba, terão que pôr à prova suas qualidades pessoais, carisma e sua vocação para a liderança, que é do que se trata na seleção eleitoral para postos de chefia executiva.
2. REFORMA INDIRETA
OS FATOS
Ao concluir pela procedência da acusação contra os operadores do núcleo político do “mensalão” – atingindo entre outros o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino – o Supremo Tribunal Federal passa para uma nova etapa do processo: a fixação das penas que incidirão sobre cada um dos denunciados no feito, conforme a maior ou menor gravidade de sua participação naquele ilícito político. É possível que a maioria dos réus se livre de penas de restrição de liberdade – dado o decurso do tempo entre a ocorrência e o julgamento, bem como, na maioria dos casos, pela atuação discreta no episódio.
ANÁLISE (I)
O resultado do julgamento do “mensalão”, longe de ser individualizado em agentes individuais, deve ser observado sob o ângulo institucional. O que ficou na mira dos juizes supremos foi uma forma de operação política – a cooptação de partidos e parlamentares por meios não ortodoxos. Esse modelo buscou tangenciar as limitações práticas do “presidencialismo de coalizão” praticado no Brasil. A mais lúcida análise do caso vem do professor Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais: tratou-se de uma distorção ideológica do partido vencedor de 2002, que levou à desqualificação dos participantes do jogo parlamentar. Sem qualidade para partilhar o poder eles deveriam ser “cooptados” e não associados à governança.
ANÁLISE (II)
Outro fato revelado pelo processo: nosso país não logrou aperfeiçoar o sistema de representação política herdado da experiência histórica (principalmente da raiz ibérica), tolerando afinal a proliferação de legendas sem densidade doutrinária – as tais “barrigas de aluguel” em coligações eleitorais – agravada pelo regime de eleição proporcional por lista aberta. A limitação de conduta imposta pelo STF (“caixa dois é crime”, declarou a ministra Carmen Lúcia; “o poder deve ser controlado”, afirmou o decano Celso de Mello) poderá conduzir a uma reforma política indireta. Nela, os partidos poderão continuar se coligando nos pleitos, para depois partilharem o exercício do poder – afastadas contudo, as hipóteses de compensações financeiras diretas como se registrou no episódio impugnado pela Justiça.
3. CRISE E PESSIMISMO
OS FATOS
Enquanto o FMI divulgava um relatório pessimista sobre as perspectivas da crise internacional, com sobras para os países emergentes tipo Brasil, a chanceler alemã Ângela Merkel empreendeu uma visita de risco à Grécia. Em nível ostensivo, a dirigente da Alemanha foi levar apoio ao governo grego para superar as dificuldades do ajuste à normalidade européia, porém é possível que a sra. Merkel tenha desejado observar de perto a realidade do país mediterrâneo. Foi recebida com protestos por uma população desencantada com o remédio amargo que os lideres da coalizão do euro receitaram para os doentes econômicos da Europa.
ANÁLISE
O relatório do Fundo Monetário Internacional não poderia ser mais negativo: no dia mesmo de sua difusão as bolsas de valores começaram a cair em todas as praças, porque os cenários são os mais adversos possíveis. Em síntese, a criada iniciada há quatro anos pode se prolongar por mais tempo e dos seus efeitos ninguém se salva, inclusive os países tidos como vacinados como o Brasil, China e por aí afora. O problema é que esse organismo – criado no final da II Guerra para coordenar políticas gerais na economia – acabou sendo esvaziado e agora padece de governança efetiva, defenestrado o francês Dominique Strauss-Khan por uma acusação suspeita. Neutralizado o FMI restou uma autoridade européia mais míope do que competente, cujos repetidos erros têm agravado a paralisia global.
4. TSUNAMI CHEGOU
OS FATOS
Um fundo de investimentos americano deu suporte a uma operadora “gigante” de planos de saúde dos Estados Unidos para comprar o controle da Amil, a principal empresa brasileira do setor. A UnitedHealth pagou quase 10 bilhões de reais (exatos 9,95 bi) para assumir a firma nacional fundada pelo médico Edson Bueno. Enquanto isso outra firma americana, a CareFusion, adquiriu a Intermed, fabricante de equipamentos médicos. Com bolsos cheios, tais fundos e investidores fazem revoadas em países emergentes, comprando tudo que vêem pela frente: redes de supermercados, empresas industriais e agora, prestadores de serviços.
ANÁLISE (I)
As duas investidas representam a face concreta do “tsunami” monetário criticado pela presidente Dilma em fóruns internacionais: os países centrais, detentores de capacidade de emissão de moeda própria, promovem operações de facilitação monetária – isto é, imprimem dólares, euros, ienes, sem lastro – e com isso inundam os mercados financeiros mundiais. Seus empresários, com as carteiras recheadas, saem mundo afora comprando ativos – lotes de mercadorias (commodities), empresas, participações acionárias, etc – criando turbulências como na Índia, onde a população protestou recentemente contra essas desnacionalizações em massa.
ANÁLISE (II)
Com tais liberalidades financeiras, de um lado eles inflacionam a base econômica geral e, de outro, promovem desnacionalizações que, no limite, representam dano à autonomia dos países onde aportam. Isso com os outros, porque em seus próprios mercados são rigorosamente seletivos à entrada de firmas de fora, como se viu recentemente nos EUA ao frearem transferências para firmas chinesas; na Europa continental, ao vetarem a compra da EADS que fabrica os aviões Airbus por um grupo britânico, e por aí afora. Na saúde, educação, etc. o risco de “mercantilização” já começa a gerar protestos: médicos brasileiros decidiram suspender provisoriamente o atendimento a clientes dos planos.
MISCELÂNEAS (I)
Hugo Chavez foi reeleito na Venezuela, mas desta vez enfrentou uma oposição articulada que chegou próximo à vitória nesse país afetado por uma forma especial de caudilhismo latino-americano =/= Os Estados Unidos continuarão paralisados em sua atuação internacional até a eleição de novembro. Na corrida, o presidente Barack Obama e seu desafiante republicano, Mitt Romney, que se mostrou mais assertivo no primeiro debate de televisão =/= Guerra civil da Síria se espraiando pelos países da vizinhança: Turquia e Jordânia. Com pitadas de intervenção do Irã e de grupos radicais como a Al Kaeda.
MISCELÂNEAS (II)
Brasil terá “supersafra” de 172 milhões de toneladas, liderada por soja e milho. Mas é preciso colocar as barbas de molho: as produções de arroz, feijão e trigo recuam, afetadas por descontinuidades na política de estímulos públicos a esses alimentos essenciais =/= Banco Central manteve a política de redução de juros básicos, baixando a taxa Selic para 7,25% =/= Segurança pública se tornou item prioritário da agenda pública, com a sucessão de delitos em São Paulo, Curitiba e outros pólos populacionais =/= Governador Beto Richa acaba de anunciar: ficará neutro na disputa de segundo turno entre Ratinho Junior e Gustavo Fruet. Em S. Paulo a neutralidade é do PRB de Celso Russomano, o ex-quase futuro prefeito eleito nas pesquisas e derrotado nas urnas. Mas seus votos migraaram para Fernando Haddad, à frente de José Serra na primeira pesquisa pós I turno.
O FERIADO É CÍVICO
Hoje, 12 de outubro, é feriado nacional, introduzido sob o governo do presidente Figueiredo, em homenagem a N. Sra. Aparecida, padroeira do Brasil. Isso apesar de a República ser nominalmente laica – herança dos militares positivistas de 1889. Mas no passado a mesma data foi reverenciada sob forma histórica – dia do descobrimento da América (1492) por Cristóvão Colombo. Melhor, no Brasil, 12 de outubro sinalizou a conclusão do ciclo da Independência em 1822, com a solene aclamação do Império do Brasil e de seu primeiro governante – o então príncipe D. Pedro, elevado na ocasião à majestade de imperador Pedro I. Durante tempos se hesitou na data para simbolizar a emancipação brasileira: o “7 de Setembro” – dia do rompimento com o Grito do Ipiranga, ou o “12 de outubro” – dia da aclamação do imperador.
Rafael de Lala,
Presidente da Associação Paranaense de Imprensa – API
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