Fatos Políticos Recentes (Análise da Conjuntura)

1. LIÇÕES DO PLEITO

OS FATOS

As eleições municipais em segundo turno transcorreram dentro da normalidade esperada: em Curitiba foi registrada a vitória do ex-deputado Gustavo Fruet (aliança PDT-PT-PV) ante o opositor, o também deputado federal Ratinho Junior (PSC e partidos menores). Em São Paulo o eleito foi o ex-ministro Fernando Haddad, lançado pelo PT e apoiado pelo PMDB – entre outras forças partidárias -, que venceu o ex-governador José Serra, do PSDB e coligados. Em Salvador o deputado ACM Neto superou o candidato petista Nelson Pelegrino com um discurso de renovação que guardou pouco vínculo com sua herança política tradicional. Em compensação o PT – coligado com legendas menores à esquerda –  conquistou prefeituras em capitais como João Pessoa, Rio Branco, Goiania, São Luiz do Maranhão e aprofundou êxitos do primeiro turno.

ANÁLISE

Foi de fato uma eleição vinculada a temas locais (apesar de tentativas de sua expansão para o panorama nacional), mas no geral o eleitor votou com a oposição. Isto é, nas praças onde o grupo governante era do PSDB o prefeito eleito foi do PT ou de legenda coligada; onde os petistas governavam,  o eleitor escolheu candidatos apontados pela oposição. Os analistas indicam que esse “voto de protesto” deriva da piora das condições gerais da economia no período entre 2008 (quando o país crescia acelerado) e 2012 (reflexo da crise mundial). Por isso, em média, os prefeitos que estavam no cargo foram mal sucedidos: apenas três foram reeleitos em primeiro turno.

2. PERDAS HISTÓRICAS

OS FATOS

O feito mais notável da rodada eleitoral do ano foi a vitória de Haddad – fortemente apoiado pelo ex-presidente Lula – na capital paulista. Guiado por uma intuição que o destacou na carreira política, o fundador do PT descartou figuras tradicionais na arena paulistana (Marta Suplicy, Aloisio Mercadante) para apostar num novo nome, sem histórico político, porém também sem a rejeição associada a figurantes mais antigos. Com essa estratégia venceu o grupo tucano, que apresentou a recandidatura do ex-prefeito José Serra e que, inicialmente situado num patamar confortável, veio caindo na preferência do eleitorado até o desfecho final.

ANÁLISE

No caso de Curitiba, também analisado como emblemático pelos comentaristas, uma candidatura de início cambaleante – do ex-deputado Gustavo Fruet – logrou passar para o segundo turno ao superar o atual prefeito Luciano Ducci e, na reta final, atropelou o concorrente, o também deputado Ratinho Junior. O segredo: Fruet expressou um histórico mais enraizado no “ethos” curitibano. Além dos equívocos associados à condução do partido dominante no cenário estadual (o PSDB abriu mão de concorrer nos principais municípios, em favor de alianças eventuais), os analistas debitam à estratégia de formulação da chapa de Luciano Ducci um déficit de aceitação inicial: a apresentação como vice do deputado federal Rubens Bueno, nome respeitável no cenário estadual porém sem vinculo mais denso com Curitiba.

ANÁLISE (II)

Nesse ponto o prefeito Ducci repetiu o erro anterior de Osmar Dias quando concorreu ao governo do Estado contra Roberto Requião: se ambos tivessem calçado sua chapa com um jovem parlamentar com raízes no eleitorado da capital – Ney Leprevost, Osmar Bertoldi, etc – poderiam ter obtido os cinco mil votos que lhes faltaram para transformar um insucesso em vitória. Porém o certo é o sucesso não precisa de explicações que o fracasso jamais consegue encontrar – reza o ditado – e agora é tocar para frente.

3. CAUTELA, FRUET

OS FATOS

Tão logo recolheu os resultados proclamando sua vitória, o novo prefeito aprofundou uma fala anterior, para informar que seu grupo de transição (coordenado pelo professor Fábio Dória Scatolin) vai pedir à gestão atual que suspenda o lançamento do edital do metrô para a revisão do projeto, pedindo um prazo de seis meses a um ano para tal reanálise. Outras matérias também são objeto de contestação: o projeto do viaduto estaiado sobre a Avenida das Torres (a ser readequado via corte de custos possíveis) e a urbanização da Avenida Cândido de Abreu (liga a área central ao Centro Cívico).

ANÁLISE

Em toda a crônica política é natural que o governante eleito queira passar a limpo as prioridades da gestão anterior: afinal ele é que vai executar o orçamento público e se tornará responsável pelos êxitos ou equívocos da administração. Nessa linha, tudo bem que Gustavo Fruet queira rever projetos que comprometerão a cidade pelos próximos anos e, para tanto, busque cortar custos não prioritários. Mas é preciso cautela em tais assuntos: o histórico do Paraná não tem sido feliz em descontinuidades administrativas. No governo estadual anterior foram rejeitados recursos federais que ampliariam o cais do porto de Paranaguá – que acabaram cancelados e resultaram em obra não realizada; uma denuncia ainda não provada sobre a construção de um tronco ferroviário com verba privada resultou na continuidade de um gargalo que vai afetar a economia paranaense por anos, e assim por diante.

4. QUEREMOS OS ROYALTIES

OS FATOS

Passadas as eleições, o Congresso retomou o debate sobre a distribuição dos “royalties” da exploração do petróleo, hoje  orientados para beneficiar estados e municípios lindeiros aos campos em exploração – o chamado mar territorial. Na gestão anterior o então presidente Lula sempre favoreceu a posição desses entes, chegando a vetar projeto aprovado pelo Congresso que estabelecia divisão mais paritária dos resultados desse recurso natural. Agora a matéria enfrenta novos bloqueios: os deputados querem estender a redistribuição dos royalties e o governo federal introduz variável nova na questão: a verba deve ir para a educação.

ANÁLISE

Trata-se de um debate que toca de perto a Federação: até aqui estados como o Rio de Janeiro, dispondo de recursos abundantes provenientes dos royalties, praticam uma política generosa de atração de investimentos – muitos deles também desejados pelo Paraná que, entretanto não dispõe de tais facilidades. Por isso os paranaenses como um todo – Bancada Federal, Governo Estadual e sociedade organizada – precisam participar do processo para reivindicar uma divisão justa dos benefícios daquele recurso natural. E ainda, acompanhar outra discussão importante (e urgente, por ter prazo assinado pelo Supremo): a revisão do Fundo de Participação dos Estados, que nos penaliza como região doadora de recursos federativos, agora em beneficio dos estados do Nordeste, Norte e Centro-Oeste.

MISCELÂNEAS

Lideranças européias continuam às voltas com a falta de coordenação no bloco. Com isso a crise se aprofunda e se ampliam os protestos populares contra governos condenados como inefetivos =/= Tempestade na costa leste dos Estados Unidos (região de Nova Iorque) renova inquietações quanto ao desequilíbrio do clima. Em contraponto, o Brasil atravessou uma onda atípica de calor =/= Na próxima semana os norte-americanos decidem se continuam com o governo social-democrata de Barack Obama ou retornam à agenda neo-conservadora de Mitt Romney.

MISCELÂNEAS (II)

Clima de bate-cabeça entre o governo de S. Paulo e autoridades federais deve ser substituído por forte cooperação no combate à insegurança. Ela se alastra pelo estado mais rico da Federação, pondo dúvidas sobre a capacidade dos governantes de garantirem a ordem pública – principal bem da vida em sociedade =/= Feriadão reduziu a atividade na área política, contribuindo para esvaziar a chamada CPI do “Cachoeira” no Congresso =/= Eleição de Alexandre Kireff em Londrina pode ser um marco divisor para reerguimento da metrópole paranaense da Região Norte.

RECOLHER BANDEIRAS

É hora de recolher bandeiras – as nacionais e inservíveis (por estarem rotas, desfiadas, descoradas). Tais pavilhões devem ser coletados e remetidos ao Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (Rua José Loureiro, 43, expediente à tarde) ou ao Quartel General da 5ª. Região Militar (Rua 31 de Março, S/N, bairro Pinheirinho) até dia 12. As velhas bandeiras serão incineradas durante solenidade no Dia da Bandeira, 19 de novembro – para marcar a passagem da adoção desse símbolo da Pátria após a República.

Rafael de Lala,
Presidente da API – Associação Paranaense de Imprensa
Coordenação da Frente Suprapartidária do Paraná pela Democracia
e Grupo Integrado de Ações Federativas do Paraná

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