*Luiz Gonzaga Bertelli
O preço do gás natural no Brasil já alcança 9 dólares por milhão de BTUs, unidade usada para medir o combustível gasoso. Nos Estados Unidos, ao contrário, o preço já caiu 75%, de 12 dólares para cerca de 3 dólares por unidade.
Isto se deve fundamentalmente à estrutura do mercado americano, competitiva e eficiente, composta de 6 mil distribuidoras espalhadas pelo país.
Para o preço diminuir entre nós, haverá necessidade de mudança da política dos preços dos combustíveis, líquidos ou gasosos, praticada pela nossa principal estatal. Para o professor Adriano Pires, da UFRJ, a atual política de preços já ultrapassou os limites do bom senso. –
O especialista lembra que desde 2009 a produção de petróleo da Petrobras está estagnada. Muitas indústrias já estão adiando a implantação dos seus projetos devido ao atual preço do gás, procedendo à sua transferência ao México ou à grande nação americana.
Da mesma forma, o gás natural no Brasil é mais caro do que o gás adquirido pelos nossos competidores industriais diretos, no caso as organizações fabris de cerâmica, vidro, papel, celulose, têxtil, alumínio e outras.
Tais indústrias nacionais não têm condições de concorrência com o similar estrangeiro, devido ao atual preço do insumo fornecido pela Petrobras em todas as suas fases: extração, importação, distribuição e transporte.
Cresce, ademais, nos EUA, a extração do gás do xisto betuminoso (shale gas). As previsões, se confirmadas, permitirão o abastecimento regular do gás do xisto às indústrias americanas nos próximos cem anos, com a geração de 1 milhão de empregos até 2035.
Xisto é uma rocha metamórfica, de origem sedimentar e baixo teor de óleo. Dela se pode tirar o gás natural injetando no solo uma mistura de água e outros produtos. O Brasil dá os primeiros passos na exploração do gás de xisto.
Em todos os estados brasileiros, existe a possibilidade de algum afloramento de xisto, por pequeno que seja. No Vale do Paraíba, já foi comercialmente explorado, em pequena escala.
Hoje, a única extração existente é feita pela Petrobras em São Mateus do Sul (PR). A grande limitação do gás de xisto é o impacto sobre o entorno, tanto na sua extração quanto no seu manejo, prejudicando lençóis hídricos.
O uso do gás natural no Brasil, em outubro deste ano, cresceu exponencialmente, mais de 40%, quando comparado com o de igual período de 2011.
Isto é decorrente da indispensabilidade do acionamento das usinas térmicas movidas a gás natural a fim de suprir a menor produção das hidroelétricas, que se encontram, atualmente, com os reservatórios de água incompletos.
Essa situação se reflete no aumento das importações do gás boliviano e nos recordes da demanda, prestes a alcançar 100 milhões de m³ diários.
As importações bolivianas já se encontrariam na sua capacidade máxima. Ligadas, no sentido de evitar apagões, as usinas térmicas já estariam respondendo por mais de um terço do uso total do combustível (38 milhões de m³).
Todas as térmicas produzem, se somadas, perto de 8 mil MW, atualmente. Se persistir a falta de chuvas nos tanques das hidroelétricas, haverá, ademais, a imprescindibilidade do acionamento das usinas térmicas movidas a óleo combustível, derivado do petróleo, muito mais poluente e oneroso.
A grande esperança para as indústrias brasileiras usuárias do gás natural é a exploração do pré-sal, que poderá duplicar a disponibilidade do combustível até 2020, o mesmo sucedendo quanto ao desenvolvimento dos parques térmicos nos próximos anos.
Fundamental é a exploração, que exigirá investimentos de 250 bilhões de reais em dez anos, para reverter a curva de produção de petróleo e gás natural no Brasil, que está em declínio.
Falta-nos, outrossim, no planejamento da política energética, o aproveitamento de todas as fontes disponíveis: usinas eólicas, biomassa (bagaço de cana), solar e pequenas hidroelétricas.
Tudo isso aliado à implantação de uma estratégia de conservação energética e racionalidade do seu uso. O crescimento da economia brasileira nos próximos anos vai exigir a implantação de novos empreendimentos, voltados à geração de eletricidade abundante e competitiva. Jeremy Rifkin pondera que o Brasil poderá liderar uma terceira revolução industrial e uma sociedade pós-carbono sustentável.
Luiz Gonzaga Bertelli, vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo, é conselheiro e diretor da Fiesp-Ciesp
Fonte: Por DCI – São Paulo/SP