Hamilton Bonat é empossado, neste domingo, na Academia de Cultura de Curitiba

Gratidão à Academia de Cultura de Curitiba

*Hamilton Bonat

Recebam todos as nossas saudações. Ou, pensando bem, pois agora já podemos dizer: recebam nossas saudações accureanas!

Embora eu não tenha recebido delegação para escrever em nome dos colegas recém-empossados, vou tentar resumir o sentimento que nos invade, que, se não é de todas e de todos, acredito ser da maioria.

Alegria, orgulho, satisfação e gratidão habitam nossa alma pela deferência de termos sido escolhidos para fazer parte da prestigiosa Academia de Cultura de Curitiba. Se eu fosse gaúcho, diria que estamos “mais faceiros que piá de bombacha nova”.

Mas há, também, em cada um de nós um confuso sentimento que mescla surpresa e espanto. Paira, sobretudo, uma interrogação que nos incomoda: por que fomos eleitos para integrar uma academia de cultura?

A cultura, até onde sabemos, está por toda parte. Nas artes, no construir, no falar, no pensar, no agir, no ensinar, no governar, no portar-se, no comportar-se… Cultura representa continuidade histórica…

Em busca da resposta para a dúvida que nos aflige, folheei o estatuto da ACCUR que nos foi entregue. Creio tê-la encontrado ao me deparar com nomes como os de Ivo Arzua Pereira, Luís Renato Pedroso e João Darcy Ruggeri. Estou citando apenas os presidentes, mas, claro, poderia ter nominado qualquer um dos seus acadêmicos e acadêmicas. São nomes tão honrados, que fizeram-me relembrar de um episódio, que faço questão de lhes recordar.

Logo após a independência, José Bonifácio de Andrada e Silva era titular da Pasta do Império e seu irmão Martim Francisco, da Pasta da Fazenda. Um dia, ao receber seu vencimento e colocá-lo na cartola, Bonifácio saiu à rua e, por onde passava, ia retribuindo a saudação das pessoas. Quando se deu conta, de tanto tirar e repor a cartola, o dinheiro havia sumido. Retornando ao palácio, contou o sucedido a D. Pedro. O imperador, lamentando a perda, chamou Martim Francisco e mandou que ele sacasse do Tesouro outro pagamento para o irmão descuidado. O ministro da Fazenda se recusou: “Nada disso, o senhor José Bonifácio só vence um ordenado por mês, como qualquer outro funcionário. Por isso, peço licença a Vossa Alteza para repartir com ele o meu subsídio, mas não posso pagar-lhe duas vezes”.

Minhas amigas e meus amigos: nesse episódio, poderíamos substituir, sem medo de errar, a figura de Martim Francisco pela de Ivo Arzua Pereira, de Luís Renato Pedroso ou de João Darcy Ruggeri, ou ainda, de qualquer outra acadêmica ou acadêmico da Casa que agora nos acolhe.

Cultura é um bem intangível. É imortal, como imortais são os exemplos de seriedade no trato da coisa pública deixados por mulheres e homens, brasileiros que forjaram esta Nação. As páginas vivas que escreveram deveriam ressoar como ensinamento perene sobre o caráter das pessoas.

Nós, feliz ou infelizmente, somos mortais. Imortal é a Academia de Cultura de Curitiba, é o legado de honradez que pretende transmitir às gerações futuras.

Se foi para contribuir para que ela atinja esse mister que fomos convocados, então nos sentimos imensamente gratificados.

Não sei como o faremos, pois não existe uma fórmula pronta. Só sei que a cultura que tentaremos ajudar a transmitir é aquela fundamentada nos valores da honestidade, da ética, da moralidade e da honradez, bases para uma sociedade que se deseja democrática e de direito, mas que, ultimamente, tem-se revelado, a cada dia, mais injusta.

Que Deus, em sua infinita bondade, nos conceda força, inspiração e sabedoria para, na atual e difícil conjuntura nacional, cumprirmos, cada qual a seu modo e à sua forma, com esse nosso imortal compromisso com os brasileiros de amanhã!

Fonte: www.bonat.com.br/