Fuleco ou Tolypeutes?

*Hamilton Bonat

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Um grande amigo, Joaquim Correa Santos Rocha, Coronel que prestou relevantes serviços aos gaúchos como oficial do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar, sugeriu que eu escrevesse sobre o túnel de Santa Fé. Corri para o Google. Não podia revelar minha ignorância, faceta que procuro esconder dos amigos.

Porém, caro leitor, se você concordar, vou manter o suspense sobre o que descobri naquele site de busca até o final desta crônica. Antes, prefiro dar uma de Rolando Lero, falando sobre os pensamentos que a palavra túnel fez aflorar no meu cérebro, numa verdadeira tempestade mental ou, se preferir, brainstorm.

Não foi exatamente nesta ordem, mas vamos lá: túnel lembrou tatu, que lembrou copa do mundo, dinheiro público, multidões, praias lotadas e, por fim, me fez cantarolar o Samba do Arnesto.

Que túnel nos remete a tatu é óbvio. Porém, tatu nos lembrar da Copa do Mundo no Brasil merece alguma explicação. É que o tatu-bola foi escolhido como seu símbolo. As razões são louváveis: trata-se de um animal ameaçado de extinção, que passará a ser mais conhecido, aumentando, assim, suas chances de sobrevivência.

Apesar disso, creio que ele não deve ter gostado do nome que lhe deram. Após votação popular, batizaram-no de Fuleco. Se esse foi o vencedor, dá para ter uma noção do horror que eram seus concorrentes. Imagine, a partir de agora, o porco-espinho zoando do pobre tatu-bola: “E aí, Fuleco, como vai aquela fuleca da tua irmã?” Se soubesse disso, ele teria pedido para que o chamassem de Tolypeutes Tricinctus, como fazem os cientistas. Apesar de igualmente feio, ao menos, não seria vulgar.

Mas o futebol me arremessou no meio de uma multidão, como as que lotam os estádios e, todo final de ano, as nossas praias. Só de assistir pela tevê, dá medo. Por isso, durante o verão, permaneço numa altitude segura, bem acima de zero. Creio que sofro de agorafobia (do grego ágora – assembleia, multidão; e phobos – temor), medo de estar no meio da multidão. Nesse ponto, eu e o tatu-bola nos identificamos, pois ele padece do mesmo mal. Minha aversão é tanta, que vou a Santos, uma cidade que adoro, somente na baixa temporada. Na última vez que estive lá, fiquei impressionado com a gigantesca fila para a balsa que a liga ao Guarujá. E nem tinha chegado o verão!

A fila da balsa empurrou-me para dentro de um túnel eternamente prometido, mas sempre esquecido. O argumento de que não há dinheiro para construí-lo jogou-me e volta à Copa do Mundo e a tanto recurso público sendo usado para construir e reformar estádios, alguns particulares, futuros elefantes brancos.

Termina aqui o meu lero-lero. Vou, finalmente, atender ao pedido do amigo Rocha. O túnel de Santa Fé foi construído, ainda na década de sessenta, para ligar as cidades de Santa Fé e Paraná, localizadas na Mesopotâmia Argentina. Ele passa sob o rio Paraná e sua extensão é de mais de três quilômetros.

Antes de encerrar, revelo uma dúvida que me aflige: por que, até hoje, o Estado de São Paulo, muito mais pujante do que a Mesopotâmia, ainda não construiu um túnel para ligar Santos à Guarujá, num trecho de poucas centenas de metros, por onde, diariamente, circulam milhares de pessoas e veículos? Se a justificativa for falta de dinheiro, que me perdoe o Fuleco da Copa, mas só mesmo parodiando o eterno Adoniran Barbosa: “ Nóis num semo tatu!”

Fonte: www.bonat.com.br