SUMARIO:
Cresce produtividade da agricultura brasileira =/= Retomada da economia americana abala emergentes =/= Turbulência se reflete na política brasileira =/= Clima tenso no campo (índios) e cidades (transporte coletivo) =/= Lideres do Paraná e Curitiba evitaram problema com atuação conjunta =/= Beto Richa pede que secretários conheçam “alma do governo” =/= Gustavo Fruet toma pé antes de deslanchar projetos.
1. NOTICIA BOA
– DO BRASIL:
A produtividade da agricultura brasileira vem crescendo 1% ao ano, segundo levantamento de órgãos especializados. Isso explica a elevação constante do volume de safras, previsto para 185 milhões de toneladas nesta temporada. Outro dado positivo: o financiamento da produção passou a contar com mais uma fonte de recursos: os Certificados de Recebíveis do Agronegócio, que chegaram a R$ 560 milhões.
– DO PARANÁ:
A duplicação de importantes rodovias estaduais, componentes do Eixo de Integração e de ligação com outras regiões, foi anunciada pelo Governo e vai melhorar a logística interna no território paranaense.
2. RETOMADA ABALA
OS FATOS
A retomada dos Estados Unidos vai se firmando, após os anos de queda que se seguiram a 2007, quando ocorreu o estouro da bolha dos financiamentos imobiliários em cascata, o “subprime”. A notícia, em si positiva, causou porém repercussões mundo afora, por estimular o retorno dos capitais que estavam investidos em países emergentes. As aplicações nessas praças menos valorizadas rendiam mais, porém os investidores consideram que, com a melhoria das condições do mercado norte-americano, torna-se interessante repatriar os ativos para a pátria-mãe do dólar – lugar mais seguro do mundo relativamente a outros locais, como os europeus e principalmente os emergentes.
ANÁLISE
O abalo sobre os mercados emergentes atingiu com força a economia de países como a África do Sul, Índia, México e sobretudo o Brasil. A turbulência se expressou pela retirada de recursos de curto prazo – os chamados investimentos de portfólio em aplicações de renda fixa e bolsas de valores. No geral os especialistas calculam que todos os países em fase de desenvolvimento estão sendo afetados, em maior ou menor escala – repetindo turbulências anteriores em ajustes americanos. Porém em nosso país as repercussões foram mais pronunciadas devido a fatores internos – adoção de uma diretriz econômica contracíclica assentada no consumo, política fiscal expansionista e alto índice de regulação governamental, entre outros fatores (mais, ainda, problemas de produtividade e infra-estrutura)
3. POLITICA E REAÇÃO
OS FATOS
Os movimentos anticíclicos dos mercados estão atingindo a economia interna, com persistente elevação de preços de itens com componentes importados e retração dos consumidores – preocupados com as incertezas. Tais elementos repercutiram na esfera política, com pesquisas de opinião indicando queda na popularidade da presidente da República e aceitação da política governamental. Para se contrapor ao clima a presidente enfrentou o problema: após visita a Portugal aproveitou solenidade do programa “Minha Casa” para denunciar os pessimistas. Comparou-os ao “Velho do Restelo” – personagem do poema “Os Lusíadas” de Camões que, na saída das frotas para as Índias, se punha a duvidar do sucesso das navegações. Lula também, em giro por estados do Sul, minimizou os “sobressaltos”, que “em breve serão superados”. Dilma acompanhou o ex-presidente ao Paraná, para festejar dez anos do PT no poder.
ANÁLISE
Num ponto Dilma tem razão: por não darem ouvidos aos lamentos do Velho do Restelo os lusitanos prosseguiram na aventura marítima que levou aos descobrimentos. De igual modo nosso país já atravessou outras turbulências, iguais aos atuais desafios. Só que a conjuntura é temporalmente mais difícil: véspera de uma campanha eleitoral que acabou sendo antecipada. E os concorrentes já passaram a responder: o governador de Pernambuco (Eduardo Campos), um dos desafiantes, fez ponderações sobre a recuperação e outro, o senador Aécio Neves, do PSDB, admitiu gravidade, mas recomendou serenidade para a travessia do momento.
4. CLIMA DE TENSÃO
OS FATOS
O clima geral, contudo, permanece tenso, com manifestações no campo e na cidade. No vasto interior brasileiro a movimentação de tribos indígenas ocupando fazendas e resistindo a obras de aproveitamento hidrelétrico levou a intervenções das autoridades federais. Nas duas principais cidades – São Paulo e Rio de Janeiro – além de outros pontos, movimentos radicais se apropriaram de eventos estudantis em protesto contra o preço de passagens do transporte coletivo para espalhar uma atmosfera de caos, precariamente controlada por autoridades hesitantes (e no limite, de escassa competência). O problema foi agravado pelo deflagrar de greves reivindicatórias em vários estados por grupos mais organizados: empregados em transporte urbano, professores, policiais civis, etc.
ANÁLISE
A expectativa é que o início dos jogos da Copa das Confederações – em que entra em campo a principal paixão dos brasileiros, o futebol – leve a um refluxo nas turbulências que vêm se alastrando em diversos pontos do território nacional. Num ambiente mais estabilizado será possível encaminhar os pontos polêmicos desses movimentos – tanto a questão de terras indígenas quanto o custo do transporte coletivo nas metrópoles.
5. SEM ACORDO NO FPE
OS FATOS
A Câmara dos Deputados rejeitou o projeto de lei que estabelecia novas regras para o Fundo de Participação dos Estados. A matéria, já aprovada no Senado como lei complementar, estabelecia critérios provisórios para a distribuição desses recursos, tendo sido costurada como tentativa de acordo entre os estados situados em regiões diferenciadas do país. Com a rejeição o órgão do Congresso estica o prazo para exame do tema, que forçosamente deverá ser apreciado até a próxima semana, sob pena de devolver a decisão para o Supremo Tribunal Federal – que já prorrogara o prazo para o Congresso deliberar sobre o FPE. Agora, lideranças do Senado e Câmara tentam recompor o acordo, de forma a evitar uma intervenção do Judiciário nessa questão de relevância federativa.
ANÁLISE
Ao derrubar acordo para nova sistemática de distribuição dos recursos os parlamentares atuaram segundo interesses de seus Estados, sem obediência a diretrizes das bancadas partidárias. Por isso, ausente uma coordenação de sentido geral, deputados se recusaram a subscrever proposta alternativa que viabilizaria pelo menos provisoriamente as regras para o FPE até 2015. A proposta formulada por Estados do Centro-Sul – com apoio do Paraná – era boa: a divisão dos recursos do Fundo daria maior peso ao fator populacional, beneficiando unidades com mais habitantes, sem prejuízo de outros dados como índice de desenvolvimento social, já levados em conta nas regras do FPE. Mas – referiu influente deputado da Bancada paranaense – pesa ao Congresso distorção herdada do período autoritário, que dá mais peso a Estados pouco povoados das regiões Nordeste e Norte – o que afeta o equilíbrio da Federação.
A esperança, usual na Política, é que, antes do dia 23 os parlamentares cheguem a um consenso, para evitar a arbitragem do Supremo.
MISCELÂNEA (I)
Administração Barack Obama, nos Estados Unidos, enfrentando a síndrome do segundo mandato, com o “affaire” do monitoramento das comunicações em larga escala. O problema ganhou dimensão internacional após questionamento das autoridades da Europa sobre Washington =/= Na Turquia a opinião pública informada está igualmente resistindo às investidas do premier Recep Erdogan, tidas como retrocesso político.
MISCELÂNEA (II)
Governador Beto Richa reuniu o secretariado para pregar atuação integrada: “É preciso que todos conheçam a “alma do governo”, para que possam transmitir confiança à população. A receita – positiva – sustentou muito do êxito do primeiro governo Ney Braga para modernizar o Paraná, no início da década de 1960, que reconhecidamente fazia questão de operar com uma equipe azeitada e de confiança. Ainda, ao bancar subsídios e desoneração no transporte coletivo da Região Metropolitana, o governador e o prefeito de Curitiba se livraram de problemas enfrentados alhures.
MISCELÂNEA (III)
Prefeito Gustavo Fruet fez, segunda, na sede da Associação Comercial do Paraná, prestação de contas dos cinco primeiros meses de sua gestão. Em essência, uma radiografia dos problemas encontrados e abordagem de projetos futuros. Embora alguns se queixem de pouca atividade, o prefeito segue a boa cartilha política, de Maquiavel a Richelieu: cabe primeiro tomar pé da situação, depois juntar recursos, para só depois deslanchar projetos. Sob pena de sufocar o erário e perder o passo – como aqui e ali.
Rafael de Lala,
Presidente da API – Associação Paranaense de Imprensa
Fonte: Associação Paranaense de Imprensa