A Comissão Europeia (CE), no Relatório sobre Barreiras ao Comércio e ao Investimento de fevereiro de 2013 acusa Brasil, Estados Unidos, Japão, China, Índia e Rússia de protecionismo. A CE adverte que os obstáculos ao comércio nesses mercados-chave restringem o crescimento europeu, pois estima-se que 90% do desenvolvimento econômico global até 2015 deve se dar além das fronteiras da União Europeia (UE).
Como consequência, o bloco se lançou em uma cruzada em prol de sua frágil recuperação econômica, divulgou um segundo relatório publicado, em setembro passado, às vésperas da Cúpula do Grupo dos 20 (G20), em que a CE contabilizava que Argentina, África do Sul, Brasil e Indonésia implementaram 50% das 154 novas restrições ao comércio, seguidos de Índia, Rússia e China – todos juntos respondendo por 75% das medidas.
Centrando fogo nos seis parceiros estratégicos citados inicialmente, a UE concluiu que China, Índia e Brasil são os mais inflexíveis. Sobre a China, o relatório do bloco diz que não houve abertura de mercado ao investimento estrangeiro e ainda se adotaram mecanismos de análise de fusões e aquisições com “amplas definições de segurança nacional”. A Índia, conforme o documento, manteve a política fechada de telecomunicações e os obstáculos resistentes nas questões sanitárias e fitossanitárias.
“Barreiras chinesas ao investimento persistem”, afirmou a CE, ao passo que “a Índia se recusa a retirar as medidas regulamentares injustificadas que mantêm seu mercado agroalimentar fechado às importações”.
Ao mencionar o Brasil, a UE também evoca a Argentina, afirmando que o protecionismo está recrudescendo nesses dois países, considerando que não aconteceu nenhuma melhoria em relação a medidas que afetem importação e exportação, procedimentos de contratação pública, serviços de resseguro ou de transporte marítimo.
Sobre o Brasil, a UE diz que “o novo regime de tributação no País cada vez mais favorece produtores nacionais contra os interesses das empresas europeias” e que a decisão do governo brasileiro de conceder reduções fiscais para incentivar a indústria automotiva e aumentar os direitos aduaneiros para 100 posições tarifárias, em outubro de 2012, “coloca em risco o futuro das relações comerciais” entre UE e Mercosul.
No entanto, cabe esclarecer que quando o governo brasileiro anunciou aumento do imposto de importação para 100 produtos, estabelecendo alíquota máxima de até 25%, informou que eram medidas provisórias, com duração máxima de dois anos, e estavam sendo tomadas em decorrência do cenário internacional instável. Além disso, apenas um ano depois, em outubro de 2013, as alíquotas voltaram aos patamares originais, demonstrando a capacidade de ajustamento da indústria brasileira, segundo o Brazilian Business Affairs (BBA), escritório de relacionamento da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) com os organismos da UE, sediado em Bruxelas, Bélgica. Reforça o argumento o fato de as medidas terem sido tomadas integralmente com respaldo das regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Além disso, na análise do BBA, a declaração da UE de que as medidas impostas pelo Brasil podem comprometer o futuro das relações comerciais reflete uma estratégia de pressão da UE, que não consegue esconder a vontade política e o sentido de urgência do bloco europeu de fechar o Acordo de Associação UE-Mercosul, que inclui um capítulo de livre-comércio.
Outro exemplo recente de “pressão” da UE sobre o Brasil e os demais países do Mercosul para a conclusão do acordo, conforme a visão do BBA, foi o anúncio feito pelo comissário europeu responsável pelo comércio, Karel de Gucht, de que o Brasil seria excluído da lista do Sistema Geral de Preferências (SGP) em janeiro de 2014, afetando cerca de 10% das exportações brasileiras para o bloco.
Em relação ao acordo, o Brasil reiterou por diversas vezes, e ao mais alto nível, o seu interesse e empenho na conclusão de um compromisso equilibrado. Tanto que, no começo de outubro, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou a oferta brasileira, a ser incorporada na proposta que o Mercosul deverá apresentar aos europeus até o fim de 2013, conforme foi acordado pelos líderes dos dois blocos no início do ano.
Ainda é importante reforçar, na opinião do BBA, que em nenhum momento a UE considerou nas suas análises o contexto de crise internacional que levou o próprio bloco a programar ações tidas como protecionistas não só por parceiros comerciais, mas também por organizações internacionais, como aponta o 12º relatório do Global Trade Alert (GTA): “A participação mundial do protecionismo dos países do G8 aumentou vertiginosamente de 2012 a 2013, de 27% para 35%”. E mais: segundo o GTA, os 27 Estados-Membros da UE lideram o ranking mundial de medidas protecionistas impostas desde 2008.
Conclusão
A UE aposta na balança comercial como atenuante da crise que ocorre desde 2010, e estima que o comércio será o principal motor de crescimento não apenas em 2013, mas nos próximos anos. Para alcançar esse objetivo, leva em consideração o fato de que países emergentes como Brasil, Índia, China e Rússia “continuarão efetivamente a proporcionar uma parte crescente das futuras oportunidades para as empresas da UE”.
A ação combinada de todos os meios disponíveis da UE contra “os protecionistas” busca reforçar a estratégia de colocar pressão para obter mais acesso aos mercados internacionais, bem como complementar a ambiciosa agenda de negociações bilaterais.
A conclusão desses relatórios é divulgada em um momento em que o bloco, atualmente com 28 Estados-Membros, está negociando ativamente 11 Acordos de Livre-Comércio, entre eles um com a Índia e outro com o Mercosul. Já com os Estados Unidos e o Japão, dois pesos pesados do comércio mundial, a UE abriu negociações formais no primeiro semestre. Com os Estados Unidos, a UE espera injeção na economia europeia de 119 bilhões de euros por ano. Com o Japão, pretende gerar 400 mil empregos quando o acordo estiver plenamente implantado.
Fonte: CNI
