FATOS POLITICOS RECENTES e Análise da Conjuntura

1. NOTICIA BOA

– ACORDO EM BALI: Finalmente representantes de países-membros da Organização Mundial de Comércio, reunidos na estância indonésia de Bali, chegaram a um acordo para destravar parte das negociações de liberalização comercial no globo. A solução permite medidas para facilitar o comércio, retirando travas em alfândegas e eliminando outros procedimentos burocráticos – muitos alegadamente ligados à segurança no combate ao terrorismo após os atentados de 2001, mas que se revelaram inibidores das vendas internacionais. O Brasil poderá lucrar até 15 bilhões de dólares com a simplificação, mas empresários pedem ao governo agora, acordos bilaterais e plurilaterais, deixados de lado nos últimos anos.

2. A CRISE CHEGOU

OS FATOS

Enquanto a Venezuela tenta enfrentar o desabastecimento generalizado através da censura a notícias, na Argentina a insatisfação transbordou para as ruas, atiçado por uma série de greves das polícias provinciais. Os protestos dos agentes públicos de segurança se espalharam pelo território do país, levando pessoas a promoverem ondas de saques ao comércio local. A causa aparente das paralisações era o reajuste de vencimentos dos policiais, mas enquanto os governos provinciais tentavam negociar reajustes as autoridades centrais se mostraram incapazes de restaurar a ordem com o envio – tardio – de tropas da Gendarmeria e outras corporações, o que expandiu as perdas dos empresários.

ANÁLISE

Na esteira dos distúrbios ocorreram mortes por confrontos entre saqueadores e policiais ou devido à resistência oferecida por guardas armados pelos próprios comerciantes – o que disseminou a sensação de insegurança. No pano de fundo para a instabilidade atravessada pelos argentinos está a política praticada pelo governo da presidente Cristina Kirchner, que segue a liderança de seu falecido marido Nestor. Ao adotar uma linha distributivista que privilegia camadas populares dos centros metropolitanos em prejuízo do estímulo à produção – baseada no hinterland, o governo reduziu o impulso para o desenvolvimento: exportações de bens agrícolas, taxadas fortemente, perderam força; a industria ficou sem condições de competição; as divisas controladas se tornaram escassas e a inflação, sem uma estatística confiável, perdeu seu caráter referencial – tudo desaguando na crise presente.

3. NOS EUA, ESPERA

OS FATOS

Nos Estados Unidos a expectativa é sobre a data em que o Fed vai iniciar a retirada dos estímulos monetários implantados para enfrentar a crise mundial de 2008/2013. Diversas autoridades regionais do Sistema de Reserva Federal (o banco central de lá) vêm se manifestando sobre a oportunidade de redução progressiva da injeção mensal de 85 bilhões de dólares em compras de títulos do Tesouro – o que confirmaria retomada econômica após a recessão do período. Em paralelo, as agências reguladoras americanas anunciaram maior controle das operações financeiras dos bancos a partir do capital próprio, de forma a inibir a repetição de práticas que anteriormente levaram à quebra de instituições – causa detonadora da crise econômico-financeira de 2007/8.

ANÁLISE

Para o Brasil a incerteza sobre a data do ajuste norte-americano representa a continuação das turbulências cambiais que sacudiram o país no último meio ano e que – somadas às contradições próprias de nossa economia (gastos públicos, insuficiência do superávit, baixa competitividade no comércio exterior, etc) – resultaram no magro crescimento apurado até agora. Preparando-se para o “tsunami” que virá, breve mas impactante, o Banco Central puxou os juros para 10% e pressiona o governo para restringir o ativismo da política fiscal – representada por créditos subsidiados, programas financeiros do BNDES e outros agentes e a tentativa de relaxamento da lei de responsabilidade fiscal.

4. PREFEITOS PRESSIONAM

OS FATOS

Na esfera federal duas situações trazem preocupações nessa arena. De um lado os congressistas insistem na adoção de um modelo de orçamento impositivo, embora limitado à liberação automática dos montantes de  emendas parlamentares aprovadas no bojo do orçamento anual. De outro, prefeitos liderados por uma federação da categoria querem a aprovação de uma proposta constitucional para elevar em 2% – de 23,5% para 25,5% – a parcela destacada para as comunas locais pelo Fundo de Participação dos Municípios. Eles estiveram em comitiva no Congresso para pressionar pela votação da matéria que, contudo, ainda se encontra num estágio inicial de tramitação e, se houver vigilância do governo, não passa neste ano.

ANÁLISE

O ativismo das lideranças municipais, em contraste com a passividade dos governos estaduais, é denotativo das distorções em que se acha mergulhada a estrutura federativa do Brasil. Mas, no que interessa – a contenção da despesa pública – ele representa um risco adicional à gestão prudente da política fiscal. Por isso a agencia classificadora Standard & Poor alertou, mais uma vez, para a deterioração fiscal do país que – aliada ao baixo crescimento da economia já contratado para o ano -, pode resultar na queda da nota de risco do Brasil. Se houver o rebaixamento essa classificação cairia de “BBB” para “BBB-“; ainda considerada como ‘status’ de investimento, mas apenas uma escala acima do grau especulativo.

5. EM SEGUNDO TURNO

OS FATOS

Enquanto a presidente Dilma Rousseff reunia seus antecessores para a viagem de condolências a Nelson Mandela na África do Sul, os presidenciáveis Aécio Neves e Eduardo Campos se encontravam em jantar no Rio de Janeiro. No encontro os pré-candidatos pela Oposição discutiram o cenário político para a sucessão presidencial de 2014 e reafirmaram um acordo de “modus vivendi”: vão evitar ataques mútuos durante o decorrer do processo eleitoral prestes a ser iniciado. Doutro lado, enquanto Campos intensifica os contatos para reforçar alianças partidárias em torno de seu nome, Aécio se reuniu com ambientalistas, visando compensar a falta de adesões partidárias – a maioria polarizadas por Dilma e Campos.

ANÁLISE

No encontro – oferecido para consumo público como de natureza casual (ambos os presidenciáveis teriam se encontrado por acaso no restaurante carioca) -, ficou selado um pacto importante: concorrendo em oposição à atual governante, os dois líderes deverão se apoiar mutuamente em segundo turno, assegurando uma somatória dos votos oposicionistas para tentar a remoção do atual governo liderado pelo PT. No caso dos ambientalistas há um jogo interessante: Eduardo Campos – já tem por si uma ponderável corrente de ativistas ambientais trazida pela aliança com a ex-seringueira Marina Silva e corteja os ruralistas anteriormente execrados pela ex-ministra do Meio Ambiente; Aécio Neves, que recebe automaticamente o apoio dos setores ligados ao agronegócio (mercê da aliança histórica do PSDB com o DEM), quer atrair votos dos ambientalistas.

ANÁLISE (II)

O ônus para o candidato tucano é perder apoios moderados – inclusive na esfera urbana – se der ênfase despropositada a ambientalistas radicais como, por exemplo, os defensores da intocabilidade da Mata Atlântica que, bloquearam por anos a duplicação da BR-116; ou dos que se valem da confusa legislação ambiental importada de forma acritica de países centrais para impedir, há mais de duas décadas, o aproveitamento do potencial hidrelétrico do Rio Ribeira, na divisa entre os estados do Paraná e S. Paulo.

A propósito, a política de construção de usinas sem barragens país afora está a comprometer o fornecimento de energia que, além de escassa, subirá de preço em 2014, devido ao acionamento de termelétricas, mais caras.

MISCELÂNEA

As homenagens póstumas que estão sendo prestadas ao estadista Nelson Mandela – responsável pela transição pacífica da África do Sul do regime segregacionista do “apartheid” para uma democracia multi-racial – de certo modo obscureceram o dilema da Ucrânia. Nesse país centro-europeu a gestão canhestra do atual governo aprofundou a fratura entre as parcelas da população que, sem renegar sua herança eslava de natureza pró-russa, busca uma aproximação com a modernidade da Europa.

MISCELÂNEA (II)

Enquanto o Supremo Tribunal Federal amplia a lista de execuções penais dos réus do “mensalão” – afetando principalmente políticos da esfera federal -, outro escândalo surge em São Paulo. Desta vez os acusados são políticos e gestores ligados ao governo estadual, inclusive secretários do atual governador Geraldo Alckmin. Em meio à troca de farpas entre petistas e tucanos, por haver indícios de envolvimento de pessoas com mandato federal o caso foi remetido para o Supremo.

MISCELÂNEA (III)

O espetáculo de barbarismo registrado no jogo entre os times do Atlético Paranaense e Vasco da Gama, num estádio de Joinville, SC, torna vivas as preocupações em torno da organização da Copa Mundial de Futebol de 2014 no Brasil. Tudo a recomendar bom senso dos esportistas e vigilância das autoridades, para evitar danos à nossa imagem externa =/= O Paraná vai ter assegurado o suprimento de gás para geração de energia, indústrias e domicílios. Foi o que declararam os integrantes do consórcio vencedor da 12ª Rodada de Licitações da ANP, sobre jazidas paranaenses.

 

Rafael de Lala,

Presidente da API, Associação Paranaense de Imprensa

Fonte: Associação Paranaense de Imprensa