Em 2014 o Brasil terá expansão modesta, de 2 a 2,5%, em linha com o desempenho estimado para o corrente ano. Mas as previsões para o médio prazo – cinco anos seguintes – são de recuperação, na medida em que o país ajustar seu balanço de pagamentos externos, estabilizar a dívida pública mediante reformas e reduzir a inflação, entre outros fatores.
A avaliação parte de agencias de classificação de risco como a Fitch – que declarou não ver razões para mudar a nota de crédito do país, hoje em grau de investimento; de bancos como Goldman Sachs – que fez um aporte de 250 milhões de dólares para fortalecer o capital de sua subsidiária brasileira e da IATA (associação internacional das empresas aéreas) – que ressalva o fraco desempenho do próximo ano, mas coloca o Brasil entre os três maiores mercados domésticos de aviação até 2017.
REFORMAS
Para analistas, o desempenho de 2014 está dado, porque os números modestos deste ano (crescimento de 2%) apresentam um carregamento estatístico negativo: como o PIB encolheu no terceiro trimestre e o quarto também gira próximo à estagnação, repetindo o fraco desempenho corrente no exercício, fica travada uma expansão mais forte na virada do calendário.
Mas há elementos positivos: a perspectiva de uma safra agrícola recorde, recuperação das economias da Europa e dos Estados Unidos e a ultrapassagem das eleições gerais após 2014, autorizam prognóstico mais favorável para os anos imediatos seguintes.
Essa avaliação é condicionada, porém à promoção de reformas estruturais pelo governo que vier a iniciar em 2015, e que vão se tornando unanimidade na opinião informada do país e do exterior. Ademais dos pré-candidatos e da governante em função – que amiudam suas plataformas para o futuro próximo do país – entre defensores da tese de mudança está o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles – quadro técnico próximo da liderança petista por ter sido dirigente da autoridade monetária nos mandatos de Lula.
Em artigo na imprensa regular, Meirelles sustentou que o Brasil deve mirar além da crise conjuntural para buscar não só a manutenção do grau de investimento, mas “o grau de potência” econômica do século 21.
Para assegurar esse desempenho é preciso “um choque de confiança”: reverter práticas que foram correntes como a contabilidade controversa das contas públicas e medidas que tragam tranqüilidade em relação à trajetória fiscal; coroadas com a proposta ao Congresso de independência legal do Banco Central.
CONTRAPONTOS
A controvérsia sobre a situação real da economia brasileira vai mais longe. Em passagem pelo país, um executivo do Bank of America alertou para a perda de confiança no Brasil sob a ótica do curto prazo: o país descuidou das contas públicas e promoveu intervenções indevidas na economia, afastando empresários e investidores. Porém não há deterioração nos fundamentos da economia, bastando correções que já estariam sendo feitas: nos últimos meses o governo claramente moderou seu ímpeto intervencionista ao aceitar a formatação de regras realistas para concessões, diminuiu a transferência de fundos públicos para bancos estatais e melhorou a situação fiscal mediante esforço para arrecadar receitas adicionais (como no mês passado).
O contraponto foi dado pela publicação “The Economist”. Após elogiar a decolagem do Brasil com uma chamada de capa em 2009, agora a mais influente revista mundial de temas econômicos publicou outra capa sobre o país: “O Brasil estragou tudo?” Na realidade nem tudo era cor de rosa há três anos e nem tudo é dramático agora.
Há de fato, necessidade de reformas, que vinham sendo adiadas (“empurradas com a barriga”) desde a segunda gestão do governo Lula e que, hoje, se tornam urgentes: revisão do caótico sistema tributário e contenção da burocracia asfixiante, liberalização da economia inclusive com autonomia (e não “independência”) do Banco Central, simplificação da totalitária legislação ambiental e assim por diante.
O debate está aberto, com o mesmo cenário básico apresentado em novembro: para onde vai o Brasil?
Rafael de Lala,
Coordenador
Fonte: Centro de Estudos Brasileiros do Paraná
