BRASIL: Por Uma Política Cambial Realista

Crédito: (Creative Commons)

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Uma das blagues do então ministro Mario Henrique Simonsen dramatizava o risco das crises cambiais: “A inflação aleija, mas o câmbio mata!”. Ele antecipava os efeitos da falta ou escassez de divisas em moedas conversíveis (moedas fortes) de países em desenvolvimento como o Brasil, alertando para a necessidade de políticas prudentes, necessárias para manter o país com liquidez externa.

A lição ainda hoje não foi aprendida por muitos governantes, os quais – insensatos – queimam as últimas reservas em moeda forte até lançarem seus povos no desastre; como dão conta crises atuais na Argentina e Venezuela. O Brasil, que soube acumular reservas no tempo das “vacas gordas”, atravessa a tempestade com relativa calma; embora caibam ações para melhorar a performance, sob estrita consideração da política cambial.

Não detendo poder de senhoriagem – a capacidade de produzir moeda forte (dólares, euros, ienes, libras, etc) -, o jeito sensato de enfrentar o problema é acumular essas divisas no maior volume possível. Através do esforço de exportação de bens e serviços, captação de investimentos produtivos, busca de retornos por investimentos nacionais no exterior, remessas de expatriados e outros “milagres”.

“Compre no Brasil”

Outra maneira de poupar divisas valiosas, porque escassas, é adotar a clássica diretriz neomercantilista de substituição de importações. Nessa linha, uma nação não só pode buscar alternativas para fabricação local de bens manufaturados que vinha importando (segundo discutiremos adiante), como consegue adotar medidas simples do que chamaríamos de “substituição alternativa”.

Tal a dona de casa que, na alta do tomate, opta pela compra de chuchu ou outro legume mais em conta, por que não trocar um item importado por um similar nacional. Assim, se o trigo importado está “pelos olhos da cara”, que tal substituir esse cereal por um sucedâneo que permita, com alguma criatividade, uma farinha panificável? Utilizando, por exemplo, o milho, o centeio ou o polvilho!

Como ilustração deste “paper” apresentamos uma caixa de alho importado … da China. O produto, “garlic”, que atravessou os oceanos para chegar aqui, certamente veio recheado de subsídios do governo chinês, interessado em abiscoitar os dólares que os brasileiros, inocentemente lhe transferem; quando poderia ser cultivado proveitosamente nas vastidões de terra brasílica. Com esse cuidado, ademais dos dólares poupados, estaríamos gerando emprego e renda para acelerar o PIB e o bem-estar dos brasileiros – numa estratégia de médio prazo pregada desde José Bonifácio.

País em desenvolvimento, o Brasil não pode se dar ao luxo de esbanjar recursos ou divisas com a compra externa de itens substituíveis, mormente os da natureza generosa e de clima variado que aqui desfrutamos. Deve reservar suas divisas – sempre escassas – para itens mais complexos: insumos eletrônicos, fármacos finos, tecnologia…

Estado mobilizador

 Em um nível mais elaborado, campanhas eleitorais em curso de lançamento propõem que o país adote um modelo de “Estado mobilizador”. Para promover a mobilização das energias nacionais visando o desenvolvimento, e sobretudo, revigorar a combalida base industrial.

Essa atualização da política industrial reproduz linhas adotadas em países que se desenvolveram ao impulsionar uma industrialização acelerada em séculos passados, hoje aplicada pelos asiáticos do Sudeste (Coréia do Sul, Taiwan, China, etc).

Nos primórdios ela foi elaborada pelos ingleses da transição para a Idade Moderna, copiada pelos seus descendentes norte-americanos e aprimorada por Bismarck na Alemanha unificada do século 19. Mas, sob inspiração de teorias ideologicamente mistas – ditas “cepalinas” (1) -, os países latino-americanos que implantaram políticas de industrialização substitutiva cedo derivaram para “a crescente intervenção do Estado em toda a economia, a pretexto de proteger as indústrias nascentes” (2).

Sob o guarda-chuva do interesse nacional, tal justificativa foi um passo para os decretos de limitação de margens de lucro, congelamento de preços, licenças de importação, faixas preferenciais de câmbio, etc. Com a resultante previsível de disfuncionalidades econômicas, instabilidade nas regras, autoritarismo político e estagnação da economia – quando não crise e caos político final.

Por isso, vale mais uma vez apelar para a regra do bom senso: políticas públicas mas estáveis, firmes mas prudentes; visando ganhar competitividade com a inserção da economia nacional nas cadeias globais de produção; através de um nacionalismo saudável que vê na complementaridade e no intercâmbio o meio mais sábio de conquistar o desenvolvimento – de forma responsável para com a própria população e o conjunto da humanidade.

Referências:

(1) Relativas à CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina) da ONU, que descambou para uma orientação terceiro-mundista negativa.

(2) Marcos Troyo, artigo “Argentina: país-bandoneón”, em “Folha de S. Paulo”, 31jan14,pág. A16.

Curitiba, 07 de fevereiro de 2014.

 Rafael de Lala, coordenador geral.

 Assis Utsch, coordenador de Estudos.

Fonte: API – Associação Paranaense de Imprensa