FATOS POLÍTICOS RECENTES (e Análise da Conjuntura)

SUMÁRIO

Curitiba produz fármaco radioativo de alta tecnologia =/= Dilma entrega casas (e reforça campanha de Gleisi no Paraná) =/= Plano Real: 20 anos de luta para controlar a inflação =/= Conflito no Oriente Médio desloca atenção da crise na Ucrânia =/= Candidaturas registradas no Brasil e na esfera estadual =/= Economia frágil encontra salvação na lavoura.

1. NOTICIA BOA

– De Curitiba: A produção local do produto farmacêutico radioativo FDG (fluordesoxiglicose) colocou Curitiba entre as oito cidades brasileiras capazes de aplicar essa tecnologia. O FDG – utilizado nos exames para detecção de câncer -, tem curtíssima duração (devido à perda de energia radioativa pela emissão espontânea), e é sintetizado no interior de um acelerador de partículas atômicas (cíclotron), exigindo também aparelhos especializados para processar os exames, os PETs.

A iniciativa foi do grupo Cetac, dirigido pelo neuro-radiologista Gilberto Minguetti, que iniciou o projeto há sete anos, no qual investiu mais de 20 milhões de reais. Seu laboratório nuclear é o único em operação hoje, para atender pacientes dos estados do Paraná e Santa Catarina.

2. HISTORIA POLÍTICA: JANGO

OS FATOS

Fugindo do cotidiano imediato: o ex-ministro José Serra marcou a passagem do cinquentenário do Movimento de 1964 com o lançamento de seu livro sobre o tema, em que relembra a participação naqueles acontecimentos. Serra era um jovem presidente da União Nacional de Estudantes (22 anos) e estava ao lado do então presidente João Goulart no comício do dia 13 de março de 1964, em que a virulência dos pronunciamentos – inclusive dele, mais outros, incendiários como o de Leonel Brizola  – balizou o início do movimento de restauração liderado pelas Forças Armadas. Com a experiência e maturidade adquirida após as turbulências daquele ciclo, o político paulista avalia que a radicalização se mostrou errática, levando ao desfecho esperado – a queda do governo.

ANÁLISE

Após desfazer mitos sobre os últimos dias do governo Goulart, na ruptura institucional operada no final de março de 1964, José Serra conta no seu livro “Cinquenta anos, esta noite”, que conseguiu escapar para o Chile, donde logo depois (1977) também era forçado a sair com o golpe que derrubou o governo de Salvador Allende. Para ele uma das bandeiras pregadas à época – a da reforma agrária – se revelou equivocada: além de redistribuir a propriedade da terra era apresentada como remédio para ampliar a produção de alimentos e assim “combater a inflação, altíssima”. Hoje ele entende que “reforma agrária pode ter qualquer papel, menos aumentar a oferta de alimentos em curto prazo”.

Seu depoimento sobre a figura do hesitante presidente João Goulart, que com sua ambivalência ensejou o caos: “Digamos que ‘Jango’ não era um estadista. Agora, nem sempre os presidentes são estadistas; e nem por isso, obrigatoriamente, fracassam”. Mas o período reuniu uma série de circunstâncias – Guerra Fria, crise de autoridade, confronto com o Congresso e a opinião pública, etc – que levaram ao desfecho de 1964.

3. PLANO REAL, O DESAFIO

OS FATOS

A semana também marcou a passagem dos 20 anos do lançamento do Plano Real, o programa de estabilização da moeda em vigor até nossos dias. Os protagonistas da iniciativa – economistas como Edmar Bacha, Pérsio Arida e André Lara Resende; políticos como o ex-presidente Fernando Henrique e o ex-ministro Rubens Ricupero – deram seus depoimentos sobre a construção do projeto que, sem as pirotenias anteriores (congelamento de preços, bloqueio da poupança, decretação de moratória da dívida externa, etc), conseguiu domar a inflação brasileira, que vinha descontrolada de um pico de 2.400% anuais.

ANÁLISE (I)

Segundo seus formuladores o sucesso do Plano Real consistiu na ampla informação à sociedade dos passos que seriam dados para neutralizar a inflação galopante. Primeiro foi adotado um corte nas despesas públicas de 20% (o Fundo Social de Emergência); depois, anunciada uma unidade especial de conta, a URV, emparelhada com a cotação vigente do dólar – evitando repassar para a nova moeda a contaminação inflacionária anterior; terceiro, foi implantada a nova moeda a partir da base representada pela Unidade Real de Valor.

Os primeiros tempos foram de incerteza, porém à medida que a sociedade ia aderindo à fórmula a taxa de inflação foi caindo: de 900% em junho/94 para menos de um dígito no final daquele ano. Na sequencia: lei de responsabilidade fiscal, câmbio flutuante, exigência de superávit primário para forçar a redução da dívida pública (e dos juros necessários para financiá-la). Na linha o significado das privatizações: baixar o total de obrigações do Tesouro, além de ampliar a eficiência da economia.

ANÁLISE (II)

Pontos em aberto: não foram completadas as reformas estruturais requeridas, visando elevar a produtividade sistêmica da economia, reduzir o estoque da dívida e ampliar o nível de confiança geral (interno e externo) em relação ao país. Com isso os juros e o câmbio passaram a figurar como âncoras do plano, numa trajetória oscilante que extravazou em 1999, prosseguiu até 2002 e afetou a sucessão presidencial desse ano, resultando numa mudança de grupo governante. Mesmo assim a inflação anual de hoje em dia (rodando, sem preços administrados) acima de 7%, é expressivamente inferior à dos anos críticos das décadas de 1980 e 1990, onde os preços enlouquecidos dançavam ao ritmo da maquineta etiquetadora dos supermercados, desorganizando a vida nacional.

ANÁLISE (III)

Na realidade a concepção do Plano, embora criativa, fundou-se na experiência de estabilização da Alemanha da década de 1920, lançada pelo seu ministro das Finanças Hjalmar Sacht – conforme o professor Bacha reconhece na apresentação da biografia brasileira do financista germânico.

Sacht, pouco conhecido fora dos círculos acadêmicos, conseguiu neutralizar a hiperinflação gerada pelo final da I Guerra Mundial (e pela incompetência dos líderes da República de Weimar), que chegou a fazer uma nota de dólar valer mais do que a cédula de um bilhão – isso mesmo – de marcos daquela época turbulenta (abriu espaço para a ascensão do nazismo sob Hitler).

Sua lição foi recolhida pelos pensadores da fórmula brasileira, os então jovens economistas André Lara Resende e Pérsio Arida, que conceberam o projeto “Larida” quando cursavam pós-graduação em uma universidade norte-americana. Dali para frente o caso é conhecido: expuseram a fórmula ao chefe, Edmar Bacha, que a levou ao então ministro Fernando Henrique, que conseguiu convencer o presidente Itamar Franco a ouvir os dois “sonháticos”.

A utopia deu certo: o “real” é a moeda mais duradoura na República e, agora, cabe a toda a sociedade, vigiá-la, cobrando das autoridades o respeito ao seu valor liberatório; protegendo-a como um dos símbolos da responsabilidade e do “ethos” brasileiro – tal como a Bandeira nacional.

A propósito, uma “dica” sobre a moeda nacional: não use a cédula dobrada na carteira; manuseie e guarde-a com cuidado – mostra de virtude cidadã e respeito à soberania do país que a emite, o nosso Brasil.   

4. CANDIDATURAS FORMALIZADAS

OS FATOS

O final do mês de junho e primeira semana de julho assistiram à formalização das candidaturas para as eleições gerais deste ano. Para a presidência da República consolidaram-se três postulantes viáveis: a atual ocupante do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff, aspirante à recondução apresentada pelo PT em dobradinha com o seu vice atual, Michel Temer (PMDB) e apoio de uma galáxia de partidos médios e pequenos; o desafiante Aécio Neves, senador por Minas Gerais, apresentado pelo PSDB que faz dobradinha “em chapa pura” com o senador paulista Aloísio Nunes Ferreira, mais coligação com outras legendas médias e pequenas. Em terceiro lugar na lista de postulantes viáveis, o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tendo por companheira de chapa a ex-ministra Marina Silva. Formalmente ela se registrou pelos socialistas moderados do PSB, porém é oriunda de um proto-partido – a “Rede de Sustentabilidade”, dissidência dos “Verdes” brasílicos. Na esteira, foram inscritos micro e nano-candidatos de legendas fisiológicas e ideológicas, presentes em qualquer pleito majoritário

ANÁLISE

Na arrancada, a candidata à reeleição sai com vantagem: Dilma recuperou 38% de aceitação conforme a pesquisa Datafolha mais recente – influência do bom humor que passou a empolgar a opinião nacional diante do transcorrer dos jogos mundiais de futebol, bem conduzidos no Brasil. Aécio Neves oscilou levemente para 20% enquanto Eduardo Campos se mantém abaixo de dois dígitos, embora com um discurso veemente que visa obter a passagem de sua chapa para o segundo turno.

No mais os candidatos estão registrando seus programas neste fim de semana, com ênfase – para Dilma – na ampliação do processo de inclusão social já em desenvolvimento (a presidente entregou casas populares hoje pela manhã em Curitiba); Aecio Neves enfatiza a esperança, acenando com melhorias para o país no futuro; enquanto Campos se apresenta como “o novo” no cenário político, buscando romper a polarização histórica entre petistas e tucanos

5. CIRANDA NOS PARTIDOS

OS FATOS

A etapa de registro de candidaturas via convenções partidárias repetiu a ciranda observada nos últimos anos: as alianças eleitorais para a campanha presidencial e nos estados (governadores, senadores, deputados federais e estaduais) foram as mais extravagantes possíveis. No plano nacional as cúpulas partidárias em legendas médias ou pequenas – que se coligaram com os partidos que encabeçavam chapas presidenciais – ditaram a decisão sem considerar a vontade dos convencionais, casos do PP, PTB e PDS. Com isso abriram espaço para dissidências que anulam a pretendida força política desses partidos. Nos estados, por sua vez, as alianças desmentiram o papel nacional dos partidos: legendas que em Brasília apóiam uma chapa presidencial, em várias disputas regionais se aliam a candidaturas de grêmios políticos inteiramente diferentes.

ANÁLISE

Essa mistura esdrúxula – pouco compreensível ao eleitor e menos palatável ainda para os estudiosos das instituições políticas – chegou a ser chamada de “bacanal” ou “suruba eleitoral” por diversos analistas. No fundo ela reflete a fraca institucionalização da democracia brasileira, que configura partidos com balcões de aluguel eleitoral e, no limite, torna o sistema representativo presa de baixa densidade, sujeito a disfunções (corrupção), ineficiência e preocupante perda de legitimidade.

Tudo a indicar a urgência de uma reforma do sistema político-representativo que busque ampliar seu sentido pluralista, antes que as contradições atualmente documentadas levem a um colapso perigoso – perigoso porque já vivenciado por várias vezes na crônica brasileira.

6. NO PARANÁ

OS FATOS

Para as eleições paranaenses também foram consolidadas três candidaturas principais: a do governador Beto Richa, que foi apresentado pelo PSDB em coligação com vários partidos, tendo por vice a deputada federal Cida Borghetti, esposa do ex-deputado e hierarca do PP, Ricardo Barros (região de atuação, Maringá, no Norte paranaense), levando ainda como postulante à reeleição para o Senado, o atual titular da função, Álvaro Dias;  ex-ministra Gleisi Hoffmann, candidata do PT apoiada pelo PDT, que deu o candidato a vice, ex-deputado Haroldo Ferreira e, pelo PC do B, com o candidato senatorial Ricardo Gomyde (atual assessor do ministro dos Esportes). Mais o senador e ex-governador Roberto Requião (PMDB), tendo como companheiros de chapa, na vice a deputada federal Rosane Ferreira (Verdes) e para senador, o empresário Marcelo Almeida.

ANÁLISE

Havia a possibilidade de o PMDB, por influência de um segmento de suas bancadas parlamentares, aderir à candidatura à reeleição do governador Beto Richa, o que polarizaria a disputa entre Richa e a senadora Gleisi Hoffmann – com provável desfecho em favor de um dos postulantes já no primeiro turno da eleição, a 5 de outubro. A entrada de Requião como candidato do PMDB após vencer a convenção partidária de 20 de junho joga a decisão para um provável segundo turno, “embolando” o jogo eleitoral paranaense para a decisão final, até 27 de outubro.

MISCELÂNEA

A elevação da temperatura política no Oriente Médio, com o conflito aberto entre o grupo insurgente fundamentalista ISIS e o governo do Iraque, desviou as atenções antes concentradas no Leste europeu, de certa forma esvaziando a crise entre Ucrânia e Rússia.

MISCELÂNEA

Os indicadores do desempenho da economia brasileira apontam para um fechamento fraco no primeiro semestre ora encerrado. Além do persistente recuo da produção (e exportação) da indústria, a área de serviços (com destaque para o comércio) também aponta retração. A salvação ficou com a lavoura, que colheu uma boa safra – embora enfrentando cotações menores nos preços de exportação.

AGENDA DA SEMANA

Dia 2 de julho: final da guerra pela libertação da Bahia (1823), que consolidou o processo de independência nacional.

Dia 4: Declaração da Independência dos Estados Unidos (1776), enquanto prosseguiam as batalhas pela emancipação, só encerradas anos depois.

AGENDA  API e CEB

Reunião: no próximo dia 12, evento conjunto da API e CEB, no edifício Asa em Curitiba. Pauta a ser distribuída em seguida.

Rafael de Lala,

Presidente da API – Associação Paranaense de Imprensa

Fonte: API – Associação Paranaense de Imprensa