O combustível que alavanca as economias em crescimento

*Fernando Luiz Zancan

Ao longo dos últimos 13 anos, no século XXI, o consumo de carvão cresceu 63,33%, o gás 38,74%, o óleo 16,78% e a nuclear praticamente estagnou

O carvão dominou os mercados energéticos no último ano, alcançando a maior participação na matriz energética mundial desde a década de 70. Os dados da BP Statistical Review, de 2014, mostram que o carvão cresceu 3% e alcançou 30,1% do consumo global de energia.

As fontes renováveis, ainda tímidas na sua participação, cresceram mais em base menor alcançando 2,7% da demanda energética global. O carvão por ser um combustível barato, livre de tensões geopolíticas, por estar distribuído em 70 países no mundo, está contribuindo com as economias emergentes, como a China e Índia, para retirar centenas de milhões de pessoas da pobreza.

Mesmo em países ricos e líderes na questão ambiental, como a Alemanha, o carvão está ajudando o motor econômico da Europa a diminuir o custo de sua energia. A Alemanha, ao produzir 186 milhões de toneladas de linhito, garante sua segurança energética com energia elétrica firme e competitiva (45% da matriz) com a implantação de usinas térmicas de alta eficiência e de baixo impacto ambiental.

Ao longo dos últimos 13 anos, no século XXI, o consumo de carvão cresceu 63,33%, o gás 38,74%, o óleo 16,78% e a nuclear praticamente estagnou. Deve-se entender que a Ásia, especialmente a China, tem no carvão o motor de seu processo de crescimento, ao fazer fertilizantes, plásticos, aço, cimento e energia elétrica.

Num país em que 100 milhões de pessoas virão para as cidades nos próximos 12 anos, e que tem 2700 Kwh/ano per capita, haverá um aumento significativo na sua demanda energética. Energia barata e disponível para retirar 1,3 bilhões de pessoas da escuridão, que viabiliza o crescimento dos países, a melhoria da qualidade de vida na segunda revolução industrial, que ocorre no século XXI, está ligada ao crescimento da demanda de carvão.

No Brasil, economia em crescimento, país afortunado por ter todas as fontes de energia disponíveis para seu uso, enfrenta dificuldades no fornecimento de energia. Sem gás, a indústria reclama que o mesmo é usado para gerar energia elétrica que é necessária para preservar os reservatórios que sofrem por falta de água.

Cresce a geração eólica, com uma participação maior matriz elétrica, mas por ser intermitente e complementar, precisa de fontes térmicas para dar estabilidade ao sistema. O carvão mineral, apesar de ser o mais abundante recurso energético brasileiro, esteve fora do jogo energético por conta da política de mudanças climáticas, nos últimos quatro anos, e aguarda uma nova chance de poder implantar os projetos desenvolvidos a mais de uma década.

Fala-se em diversificar a matriz energética brasileira, aposta-se no gás natural como a fonte térmica base para implementação dos 30% de energia térmica para dar segurança ao setor elétrico. Mas o gás também é necessário para a indústria, para fabricar fertilizantes nitrogenados e outros produtos.

Temos muitos questionamentos quanto a quantidade e os preços do futuro gás do pre-sal. Fala-se em gás não convencional, mas as questões ambientais, regulatórias, de infraestrutura e de tecnologia, levam o horizonte de seu uso para mais de uma década a frente. O combustível disponível no Brasil no momento é o carvão mineral, mas nunca é lembrado e nem considerado nas discussões sobre energia.

Ao implantarmos uma política industrial para o carvão mineral estaremos iniciando um processo inserção desta fonte, usada de forma pragmática no mundo, na matriz energética brasileira. Um programa de modernização das usinas térmicas existentes, a viabilização de novos projetos termelétricos com tecnologias limpas, a implantação de polos carboquímicas (fertilizantes, dimetil ether, olefinas etc.) podem trazer o desenvolvimento (emprego e renda) para as regiões produtoras de carvão no sul do Brasil.

Chegou a hora de discutirmos a matriz energética brasileira e implantar políticas públicas para implementar uma matriz que traga segurança, baixo custo, menor impacto ambiental, maior desenvolvimento das regiões produtoras. O seguro morreu de velho e passa pela diversificação das fontes energéticas, esse é o desafio do próximo governo.

*Fernando Luiz Zancan é presidente da ABCM – Associação Brasileira do Carvão Mineral

Fonte: Fernando Luiz Zancan, ABCN/Newsletter CanalEnergia