Vendo caminhão, mas não aceito cartão corporativo

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*Hamilton Bonat

“Se o horário oficial é o de Brasília, por que a gente tem que trabalhar de segunda a sexta?”. “Se for dirigir, não beba. Se for beber, me chama”. Bino encontrou essas frases de para-choque em uma revista especializada em logística. Mostrou-as à mulher e, como estava para se aposentar, aproveitou para revelar um desejo de criança: sonhava ser caminhoneiro. Convenceu-a a aplicar o dinheiro do fundo de garantia na aquisição de uma carreta. Comprou uma de segunda mão.

“Dirigido por mim, guiado por Deus”, estava estampado na traseira. É a campeã das estradas. Queria mudá-la. Não gostava de clichês. Foi o primeiro problema. Pediu sugestão à família. Nada, além da recomendação de não falar mal da sogra, outra preferida das estradas brasileiras. Igual desafio foi o de alterar a categoria da sua habilitação. Conseguiu somente na terceira tentativa.

Queria enturmar-se com os novos colegas de profissão. Compareceu à reunião do sindicato. Olharam-no com desconfiança. Não tinha pinta de caminhoneiro. Precisava disfarçar. Comprou camiseta, boné e aquela toalhinha, marca registrada da categoria. Suas múltiplas utilidades vão, desde enxugar o suor do rosto, até limpar a vareta de óleo do motor. Mesmo assim, não conseguiu se enturmar.

E o problema da frase continuava a atormentá-lo. Sem ela, o caminhão parecia nu. Só faria o primeiro frete após bolar alguma. Na busca de inspiração, foi à garagem de uma transportadora. “Se não puder ajudar, atrapalhe. O importante é participar”. “Carioca nem liga mais para bala perdida: entra por um ouvido, sai pelo outro”. “Cabelo ruim é que nem assaltante: ou tá armado ou tá preso”. Não era bem o que procurava.

Matutou muito. Acreditou ter, enfim, encontrado a solução: “Se quem dirige o Brasil tem cartão corporativo, quem dirige caminhão também tem que ter”. Crente que iria abafar, revelou-a na segunda visita que fez ao sindicato. Sonora vaia foi o que recebeu. Nunca mais voltou.

Era o que faltava para tomar a decisão de afixar um “vende-se” no para-brisa. Quem comprasse, ganharia uma camiseta, um boné e a toalhinha famosa. Levaria, também, o “Dirigido por mim, guiado por Deus”, mais apropriado para a rampa do Palácio do Planalto do que para as nossas estradas cheias de buraco.

ALGUMAS ESPIRITUOSAS FRASES DE PARA-CHOQUE DE CAMINHÃO

1.Beijo é igual ferro elétrico: liga em cima e esquenta embaixo.

2.Não mando minha sogra pro inferno porque tenho dó do diabo.

3.A velocidade que emociona é a mesma que mata.

4.Um falso amigo é um inimigo secreto.

5.Quem ama a rosa suporta os espinhos.

6.Se casamento fosse bom não precisaria de testemunhas.

7.Preguiça é o hábito de descansar antes de estar cansado.

8.Direito tem quem direito anda.

9.Mulher é como índio: pinta-se quando quer “briga”.

10.Por que ficar de braços cruzados se o maior homem morreu de braços abertos??

11.Para que um olho não invejasse o outro, Deus colocou o nariz no meio!!

12.O amor é livre; o sexo é pago.

13.70 me passar, passe 100 atrapalhar.

14.Quando homem valer dinheiro, baixinho serve de troco.

15.Sogro rico e porco gordo só dão lucro quando morrem.

16.Não sou detetive mas só ando na pista.

17.Cada ovo comido é um pinto perdido.

18.Cana na fazenda dá pinga; pinga na cidade dá cana.

19.Pobre é como cachimbo: só leva fumo!!

20.Mulher é como remédio: agita-se antes de usar.

21.Casei-me com Maria, mas viajo com Mercedez.

22.Se não fosse o otimista, o pessimista nunca saberia como é infeliz.

23.A calúnia é como carvão: quando não queima, suja.

24.A mata é virgem porque o vento é fresco.

25.Em casa que mulher manda até o galo canta fino.

Hamilton Bonat

*Hamilton Bonat é membro efetivo da Academia de Letras José de Alencar

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